Letra
e música de Sérgio Godinho
Repertório
de Cristina Branco
Mãe fora, em que avenida
Olhos que a perseguem pagam, comem
Pai dentro, lambendo a ferida
Com que o desemprego marca um homem;
E o irmão na caserna
Olhos que a perseguem pagam, comem
Pai dentro, lambendo a ferida
Com que o desemprego marca um homem;
E o irmão na caserna
Puxando às armas brilhos
E Alice no café
E Alice no café
Habitante do país dos matraquilhos
Na classe dos repetentes
Na classe dos repetentes
Hoje vai haver mais uma falta
Alice cerra os dentes
Alice cerra os dentes
Vendo a bola que no ar ressalta
Quer lá saber do exame
Quer lá saber do exame
Quer lá saber da escola
Aguenta no arame
Aguenta no arame
Matraquilho nunca cai ao ir à bola
Alice no país dos matraquilhos
É mais do que no bairro onde vive
Tem-te, não cais
É mais do que no bairro onde vive
Tem-te, não cais
Há também Leonor
Libertada da prisão há meses
Dizem que é por amor
Dizem que é por amor
Que olha tanto por Alice, às vezes
Pousa-lhe a mão na cara
Pousa-lhe a mão na cara
Protege-a de sarilhos
Alice nem repara
Alice nem repara
Viajou para o país dos matraquilhos
E o irmão na caserna
E o irmão na caserna
Cambaleia entre a cerveja e a passa
Tem o sargento à perna
Tem o sargento à perna
O tal que compara a guerra à caça
Faz tempo que descobre
Faz tempo que descobre
Que é um matraquilho mais
Soldadinho de cobre
Soldadinho de cobre
Matraquilho no país dos generais
Quando se cai na lama
Quando se cai na lama
Ninguém pára pra nos levantar
Por Alice, o pai reclama
Por Alice, o pai reclama
A tua mãe não veio p’ra jantar
E os insultos noite fora
E os insultos noite fora
Desfia-os em chorrilhos
Alice nunca chora
Alice nunca chora
Adormece no país dos matraquilhos
E a mãe no Bar do amor
E a mãe no Bar do amor
Passa as horas na conversa mole
Espera o seu protetor
Espera o seu protetor
Que o seu corpo a ele enfim se cole
Não é que não recorde
Não é que não recorde
Os que deixou em casa
Mas eis que chega o Ford
Mas eis que chega o Ford
E dentro vem o seu pavão de anel na asa
Entra então no café
Um rapaz de capacete em punho
Fica-se ali de pé
Fica-se ali de pé
Escreve num papel um gatafunho
E a Alice vê surpresa
E a Alice vê surpresa
Frases que são rastilhos
Como vai sua alteza
Como vai sua alteza
Rainha do país dos
matraquilhos
E tu ainda és o rei
E tu ainda és o rei
Será que vieste em meu auxílio
A bem dizer, já não sei
A bem dizer, já não sei
Há tantos anos que ando no exílio
Vamos a um desafio, atira tu primeiro
A vida está por um fio
Vamos a um desafio, atira tu primeiro
A vida está por um fio
Para quem é deste bairro prisioneiro
O café que ali houve
O café que ali houve
É uma loja com ares de modernice
E nunca ninguém mais soube
E nunca ninguém mais soube
A não ser a Leonor da Alice
Aqui vai, Leonor
Aqui vai, Leonor
A foto dos meus dois filhos
Se reparares melhor
Têm pinta assim, sei lá, de matraquilhos