Afonso Lopes Vieira / João Braga
Repertório de João Braga
Fui dado à luz em terra portuguesa
Sou d'um povo do mar que canta o fado
E daí vem meu mal, minha tristeza
Vinte anos velhos, todo o meu cuidado
Sou d'um povo que sonha, canta e reza
Aquele a que deitaram mau olhado
Sou o que morre, o último, o do fim
Sou o português d'hoje, agora vim
Fui dado à luz em terra de desgraça
Ó portugueses neste mundo, sós
Evocai, gente d'hoje, certa raça
D'aonde descendemos todos nós
Connosco as dores jamais fizeram pazes
Somos navegadores e cavaleiros
Sem mar, sem fé, sem braços p'ra uma espada
Somos os d'hoje, os últimos, os nada
Outros o mar já todo navegaram
Outros souberam já ganhar o céu
As nossas almas todas naufragaram
Nossa India de sonhos se perdeu
E depois d'isto tudo, ter de abrir
Os olhos, e morrer. Cantemos ante
A morte, e seja a morte a nossa glória
E as ondas guardarão nossa memória