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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Balada de neve

Lordelo do Ouro / Porto
31 de Julho de 1873

Guarda
26 de Fevereiro de 1929
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Batem leve, levemente
Como quem chama por mim;
Será chuva?... Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim

É talvez a ventania

Mas há pouco, há poucochinho
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia

Dos pinheiros do caminho


Quem bate assim levemente 
Com tão estranha leveza;
Mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva nem é gente 
Nem é vento concerteza

Fui ver, a neve caía 
Do azul cinzento dos céus
Branca e leve, branca e fria
Há quanto tempo a não via 
E que saudades Deus meu

Olho-a através da vidraça
 
Pôs tudo da cor do linho
Passa gente e quando passa
Os passos imprime e traça
 
Na brancura do caminho

Fico olhando esses sinais 
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais
Os passos miniaturais 
Duns pézitos de criança

E descalcinhos, doridos
 
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos

Depois em sulcos compridos
Porque não podia erguê-los

Que quem já é pecador 
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor
Porque lhes dás tanta dor? 
Porque padecem assim?

E uma infinita tristeza
 
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa
Cai neve na natureza
 
E cai no meu coração