José Saramago / Angelo Freire
Repertório de Angelo Freire
Posso falar de morte enquanto vivo
Posso ganir de fome imaginada
Posso lutar nos versos, escondido
Posso fingir de tudo, sendo nada
Posso tirar verdades de mentiras
Ou inundar de fontes um deserto
Posso mudar de cordas e de liras
E fazer de má noite sol aberto
Se tudo a vãs palavras se reduz
E com elas me tapo a retirada
No poleiro da sombra nego a luz
Como a canção se nega embalsamada
Olhos de vidro e asas prisioneiras
Fiquei-me pelo gasto de palavras
Como rasto das coisas verdadeiras