Repertório
de António de Noronha
Meia-noite,
uma lanterna
Um
degrau, uma taberna
E a petisqueira sublime
Ainda
impera o tacão
No
estilo da tradição
Que a fadistagem imprime;
E
ainda é uso, ao balcão
Que
à chama do canjirão
A velha guarda se arrime
Meia-noite,
o caprichar
Duma
guitarra a trinar
Em mão fadista, certeira
Uma
vela meia ardida
Uma
garrafa bebida
E uns olhos de camareira;
Na
parede colorida
Um
cartaz duma corrida
E um xaile de cantadeira
Meia-noite,
uma lembrança
E
o rebrilhar duma trança
É lume que mais fascina
E
o cantar é a preceito
No
rigoroso perfeito
Que a velha escola ensina;
Tem
o fado o seu conceito
O
faia tem o seu jeito
Tem a gente a sua sina
Meia-noite
e há discussão
Mas
põe fim à confusão
Uma voz que o fado entoa
Gente
boémia e fadista
Aventureira
e artista
A pedir outro Malhoa;
Gente
vária e bizarrista
Mas
só um ponto de vista
A tradição de Lisboa