Repertório de Mercês da Cunha Rego
Nas varandas desta rua
Há uma que vive nua
Outra que não tem lençol
A terceira é um catavento
Em Março noiva do vento
Em Julho amante do sol
As outras não têm história
Ou perderam a memória
Ou passam a vida à espera
Mas há ainda mais uma
Que é confidente de bruma
E prima da Primavera
Quase ninguém a conhece
Apenas quando anoitece
Toda ela se alumia
E no entanto, essa luz
Ganha a forma de uma cruz
Através da gelosia
Entre as varandas, são tantas
Há pecadoras e santas
Umas ricas outras pobres
Mas não sei se há uma rainha
Nem direi qual é a minha
A ver se tu a descobres