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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Ilusão

Mote de autor desconhecido / Glosa de Carlos Harrington
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par
Conforme o vento as movia
Iam-se as rosas beijar


Dois entes que se adoravam 
Quando jovens e com vida
Naquela campa esquecida 
Lembram as rosas que amavam
Essas flores que encantavam 
Rapidamente cresceram
No mesmo dia morreram 
Como dois peitos leais
P’ra em tudo serem iguais
Na mesma campa nasceram

Mesmo o sinistro coveiro 
Que as florinhas regava
Involuntário as olhava 
Com gesto mais prazenteiro
Embora rude e grosseiro 
Parecia cogitar
Que quisera Deus sanar 
O agro do seu sofrer
Ordenando ali nascer
Duas roseiras a par

Quando os rouxinóis cantavam 
Nos altos freixos do monte
Erguiam as flores a fronte 
E em êxtases escutavam
Na haste se balouçavam 
Quando a lua além se erguia
Só cessando quando o dia 
Clareava a solidão
Elas bailavam então
Conforme o vento as movia

Mas certa noite fatal 
Noite de agrestes nortadas
As pobres foram ceifadas 
Pela ânsia do temporal
Uma lufada infernal 
Pareceu rasgar o ar,
E ao coveiro ouvi contar 
Que ainda pranto derrama
Que, desfolhadas na lama
Iam-se as rosas beijar