Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*
Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par
Conforme o vento as movia
Iam-se as rosas beijar
Dois entes que se adoravam
Quando jovens e com vida
Naquela campa esquecida
Naquela campa esquecida
Lembram as rosas que amavam
Essas flores que encantavam
Essas flores que encantavam
Rapidamente cresceram
No mesmo dia morreram
No mesmo dia morreram
Como dois peitos leais
P’ra em tudo serem iguais
Na mesma campa nasceram
Mesmo o sinistro coveiro
P’ra em tudo serem iguais
Na mesma campa nasceram
Mesmo o sinistro coveiro
Que as florinhas regava
Involuntário as olhava
Involuntário as olhava
Com gesto mais prazenteiro
Embora rude e grosseiro
Embora rude e grosseiro
Parecia cogitar
Que quisera Deus sanar
Que quisera Deus sanar
O agro do seu sofrer
Ordenando ali nascer
Duas roseiras a par
Quando os rouxinóis cantavam
Ordenando ali nascer
Duas roseiras a par
Quando os rouxinóis cantavam
Nos altos freixos do monte
Erguiam as flores a fronte
Erguiam as flores a fronte
E em êxtases escutavam
Na haste se balouçavam
Na haste se balouçavam
Quando a lua além se erguia
Só cessando quando o dia
Só cessando quando o dia
Clareava a solidão
Elas bailavam então
Conforme o vento as movia
Mas certa noite fatal
Elas bailavam então
Conforme o vento as movia
Mas certa noite fatal
Noite de agrestes nortadas
As pobres foram ceifadas
As pobres foram ceifadas
Pela ânsia do temporal
Uma lufada infernal
Uma lufada infernal
Pareceu rasgar o ar
E ao coveiro ouvi contar
E ao coveiro ouvi contar
Que ainda pranto derrama
Que, desfolhadas na lama
Iam-se as rosas beijar
Que, desfolhadas na lama
Iam-se as rosas beijar