Repertório de Rosa de Jesus
Eu sou o fado, não se riam, é verdade
Aqui não há falsidade, eu vou contar
Na Mouraia, numa casinha perdida
Uma velhinha tão querida veio contar
Contou-me a dor de ter sido abandonada
E mais tarde desprezada, fugi dali
Amei sofri, beijos senti, beijos sem sorte
E até mesmo a própria morte a Deus pedi
Se nos versos que canto e que choro
Há lágrimas d’oiro de rara beleza
Também são, para aqueles que riem
A todo o momento, da minha tristeza
Se eu tivesse nascido impostora
Sem fé sem amor, seria adorada
Mas eu cá já nasci fatalista
Eu sou o fado, eu não sou fadista
Eu sou o fado, esse boémio que chora
E que anda p’la noite fora com a saudade
A voz que grita a dor do seu povo amante
Sem esquecer um instante, sua cidade
Sou o poeta das verdades mais amargas
E quem em mil noites de farra, nunca esqueceu
A Mouraria dessa casinha perdida
Uma velhinha tão querida que já morreu