Letra e música de Jonas
Repertório do autor
Cai a noite na cidade
Com ressaca arrastada e madura
Acorda o bêbado manhoso
Que pede um shot de aguardente quente e pura
Bota acima e bota abaixo
Dormência prá cabeça e pró peito
A abarrotar de tanta vida
De mau olhado de azar de amor desfeito
Ali pertinho a puta velha
Com gloss rasca comprada no Chinês
Tenta engatá-lo à descarada
E ele mais uma aguardente, já vão três
Os dois pombinhos mancos e sujos
Trocam olhares por entre a gente que ali está
Por cima escrito na ardósia
Iscas para hoje já não há
No Chiado a preta louca
Mamas fartas repousadas nos joelhos
Com voz baixinha e nervosa
Pede um cigarro a um casal de velhos
Por baixo no metro já stressado
O cego faz ritmo a pedir esmola
Manda vir com toda a gente
E pisa o calo da senhora que é espanhola
Entra o Romeno de cão ao ombro
Olhar quebrado vai tocando acordeão
Uma criança fica a pensar
Será mais triste o dono ou o cão
E no Saldanha fica a lembrança
Do fulano que acena a quem lá passa
Iluminado pelos faróis
Ali de pé a dar mais graça àquela praça
São personagens de um show real
De um Big Brother sem vencidos nem heróis
Cada um de nós no seu papel
Da manhã fresca até à hora dos lençóis
Todos num conto que não tem fadas
Que tem crianças gatos, pombos e pardais
No eterno enredo puro e simples
Com a certeza de que amanhã há mais