Repertório de João Ferreira Rosa
Na minha cama só estava deitado
E sem poder dormir pus-me a sonhar
Eu sonho muitas vezes acordado
E o que sonhei então vou-lhes contar
Era uma tarde linda… vinham toiros
Correndo, estrada fora, para a praça
Onde os toureiros vão conquistar loiros
Entusiasmando ao rubro, a populaça
Eu andava p’ra’li entontecido
Com o sol, com a luz e co’a algazarra
De repente, porém, fui atraído
Pelo doce trinar duma guitarra
Era o Fado… mas o Fado rigoroso
Cantava-o a Severa, a preceito
Co’a guitarra nas mãos do Vimioso
Gemia anseios de fogo no peito
Eu então, fadista como era
Peguei numa guitarra, fui tocar
Cantei ao desafio com a Severa
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Versão original publicada no livro
*Poetas Populares do Fado Tradicional*
de Daniel Gouveia e Francisco Mendes
Há dias tive um sonho, que engraçado
Ninguém pode supor o que eu sonhei
Na tribuna da vida do passado
Em Carriche, fui eu quem mais brilhei
Na minha cama só estava deitada
Mas sem poder dormir pus-me a sonhar
Eu sonho muitas vezes acordado
E o que sonhei então vou-lhes contar
Era uma tarde linda… vinham toiros
Correndo, estrada fora, para a praça
Onde os toureiros vão procurar loiros
Entusiasmando, ao rubro, a populaça
Eu andava p’ra’li entontecida
Pelo sol, pela cor, pela algazarra
De repente, porém, fui atraída
Pelo doce trinar duma guitarra
Era o Fado… mas o Fado rigoroso
Cantava-o a Severa, com preceito
E a guitarra nas mãos do Vimioso
Punha anseios de fogo no meu peito
Sentindo-me então fadista como era
A rascoa cigana, quis cantar
Cantei ao desafio com a Severa
Mas isto, meus senhores, foi a sonhar