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O pierrot

Linhares Barbosa / Alfredo Duarte *versículo*
Repertório de Alfredo Marceneiro 

Naquele dia de entrudo / lembro bem 
Um intrigante pierrot / da cor do céus 
Um ramo de violetas / pequeninas 
À linda morta atirou / como um adeus 

Passa triste o funeral / é duma virgem 
Mas ao povo que lhe importa / aquele enterro 
Que a morte lhe passa à porta / só por ele 
Em dia de carnaval / e de vertigem 

Abaixo a máscara, gritei / com energia 
Quem és tu grosseiro que ousas / profanar 
Perturbar a paz das lousas / tumulares 
E o pierrot disse: não sei / e não sabia 

Sei apenas que a adorei / um certo dia 
Num amor todo grilhetas / assassinas 
Se não vim de vestes pretas / em ruínas 
Visto de negro o coração / e resoluto; 
Atirou sobre o caixão / como um tributo 
Um ramo de violetas / pequeninas
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Versão original
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Naquele dia de Entrudo / Lembro bem:
Um intrigante pierrot / Da cor dos céus
Um ramo de violetas / Pequeninas
À linda morta atirou / Como um adeus

Passa triste o funeral / É duma virgem
Mas ao povo o que lhe importa / Aquele enterro
Que a morte lhe passe à porta / Só por erro
Em dia de Carnaval / E de vertigem
A hora é de bacanal / Cores a tingem
Por isso se alheia a tudo / Num vaivém
Farto de estar carrancudo E sem vintém
Anda ele o ano inteiro, Bem contado,
E assim ’stava galhofeiro / E tresloucado
Naquele dia de Entrudo / Lembro bem

O cortejo lá seguiu / Tristonhamente
Indif’rente aos mascarados / Foliões
Que par’ciam vitimados / Corações
Dum eterno desvario / Impenitente
O meu olhar, então, viu / Amargamente
Um caso que o intrigou / Oh! olhos meus
Quando o cortejo chegou / Entre plebeus
À porta do cemitério / Taciturna
Seguia o carro funéreo / Junto à urna
Um intrigante pierrot / Da cor dos céus

Abaixo a máscara! – gritei / Com energia
Quem és tu grosseiro que ousas / Profanar
Perturbar a paz das lousas / Tumular
E o «pierrot» disse: – Nem sei / Que não sabia
Sei apenas que a adorei / Um certo dia
Num amor todo grilhetas / Assassinas
Se não vim de vestes pretas / Em ruínas
Visto negro o coração / E resoluto
Atirou sobre o caixão / Como um tributo
Um ramo de violetas / Pequeninas

Os guardas não permitiram / Com razão
No cemitério a entrada / Triunfante
Àquela dor mascarada / Àquele amante
Cujos soluços se ouviram/ De emoção
Disseram-me então que o viram / Com paixão
Que o pobre amante tirou / Dos olhos seus
A másc’ra que os disfarçou / E fê-los réus
E num adeus, num temor / Com humildade
Um casto beijo de amor / Todo saudade
À linda morta atirou / Como um adeus