Publicadas no jornal Guitarra de Portugal de 1 de Janeiro de 1935
Transcritas do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Fazer anos para quê?
Se os anos que nós fazemos
É mais um passo que damos
É mais um passo que damos
No trilho que percorremos
A Vida, só nessa idade
A Vida, só nessa idade
Sentimos que ela começa
E como é tarde dizemos
E como é tarde dizemos
Que a vida vai tão depressa
Os anos passam correndo
Os anos passam correndo
E enquanto correm os anos
Vamos colhendo saudades
Vamos colhendo saudades
Na senda dos desenganos
E os anos sempre correndo
E os anos sempre correndo
Levam-nos a outra idade
Queremos cantar a vida
Queremos cantar a vida
E só choramos saudade
Na mocidade a tristeza
Na mocidade a tristeza
Nunca se pode encontrar
Os moços passam os anos
Os moços passam os anos
Sem cuidado de os contar
Vem a geada do tempo
Vem a geada do tempo
Embranquecer-nos a fronte
Já não enxergam os olhos
Já não enxergam os olhos
Os alvores do horizonte
E quanto mais anos fazem
E quanto mais anos fazem
Sempre a correr… a correr
Os moços, sempre sonhando
Os moços, sempre sonhando
Mais anos querem fazer
E como já não sabemos
E como já não sabemos
Os dias que se afundaram
Vamos contando p’los dedos
Vamos contando p’los dedos
Os anos que já passaram
Bendita seja essa idade
Bendita seja essa idade
Em que os anos são esp’ranças
São qual pranto passageiro
São qual pranto passageiro
Nos olhitos das crianças
Descendo a encosta da vida
Descendo a encosta da vida
Vamos tão velhos, tão gastos
Que levamos a nossa alma
Que levamos a nossa alma
Atrás de nós, mas de rastos
Mas o tempo vai correndo
Mas o tempo vai correndo
A vida dura um instante
E temos então vontade
E temos então vontade
De não passar adiante
E a vida passa… deixá-lo
E a vida passa… deixá-lo
Vamos sonhar outra sorte
Somos crianças dormindo
Somos crianças dormindo
No eterno berço da morte
É que levamos a vida
É que levamos a vida
Numa constante doidice
E por mais belos que sejam
E por mais belos que sejam
Os anos trazem velhice
Os anos que nós passamos
Os anos que nós passamos
São o traço de união
Que liga o primeiro sonho
Que liga o primeiro sonho
À derradeira ilusão