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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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A vida

Quadras de Henrique Rego
Publicadas no jornal Guitarra de Portugal de 1 de Janeiro de 1935
Transcritas do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Fazer anos para quê? 
Se os anos que nós fazemos
É mais um passo que damos 
No trilho que percorremos

A Vida, só nessa idade 
Sentimos que ela começa
E como é tarde dizemos 
Que a vida vai tão depressa

Os anos passam correndo 
E enquanto correm os anos
Vamos colhendo saudades 
Na senda dos desenganos

E os anos sempre correndo 
Levam-nos a outra idade
Queremos cantar a vida
E só choramos saudade

Na mocidade a tristeza 
Nunca se pode encontrar
Os moços passam os anos 
Sem cuidado de os contar

Vem a geada do tempo 
Embranquecer-nos a fronte
Já não enxergam os olhos 
Os alvores do horizonte

E quanto mais anos fazem 
Sempre a correr… a correr
Os moços, sempre sonhando 
Mais anos querem fazer

E como já não sabemos 
Os dias que se afundaram
Vamos contando p’los dedos 
Os anos que já passaram

Bendita seja essa idade  
Em que os anos são esp’ranças
São qual pranto passageiro 
Nos olhitos das crianças

Descendo a encosta da vida 
Vamos tão velhos, tão gastos
Que levamos a nossa alma 
Atrás de nós, mas de rastos

Mas o tempo vai correndo 
A vida dura um instante
E temos então vontade 
De não passar adiante

E a vida passa… deixá-lo 
Vamos sonhar outra sorte
Somos crianças dormindo 
No eterno berço da morte

É que levamos a vida 
Numa constante doidice
E por mais belos que sejam 
Os anos trazem velhice

Os anos que nós passamos 
São o traço de união
Que liga o primeiro sonho 
À derradeira ilusão