*pseudónimo de: Rómulo de Carvalho*
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Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
Tão concreta e definida
Como outra coisa qualquer
Como esta pedra cinzenta
Em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso
Em serenos sobressaltos
Como estes pinheiros altos
Que em verde e oiro se agitam
Como estas aves que gritam
Como estas aves que gritam
Em bebedeiras de azul
Eles não sabem que o sonho
Eles não sabem que o sonho
É vinho, é espuma, fermento
Bichinho álacre e sedento
Bichinho álacre e sedento
De focinho pontiagudo;
Que fossa através de tudo
Que fossa através de tudo
Num perpétuo movimento
Eles não sabem que o sonho
Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel
Base, fuste, capitel
Base, fuste, capitel
Arco em ogiva, vitral;
Pináculo de catedral
Contraponto, sinfonia
Máscara grega, magia
Máscara grega, magia
Que é retorta de alquimista
Mapa do mundo distante
Mapa do mundo distante
Rosa-dos-ventos, infante
Caravela quinhentista
Caravela quinhentista
Que é cabo da boa esperança
Ouro, canela, marfim
Ouro, canela, marfim
Florete de espadachim
Bastidor, passo de dança
Bastidor, passo de dança
Columbina e arlequim
Passarola voadora
Passarola voadora
Pára-raios, locomotiva
Barco de proa festiva
Barco de proa festiva
Alto forno, geradora
Cisão do átomo, radar
Cisão do átomo, radar
Ultra-som, televisão
Desembarque em foguetão
Desembarque em foguetão
Na superfície lunar
Ele não sabem, nem sonham
Ele não sabem, nem sonham
Que o sonho comanda a vida
Que sempre que um homem sonha
Que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança;
Como bola colorida
Como bola colorida
Entre as mãos duma criança