Repertório de César Morgado
Um dia um telegrama recebeu
Em que dizia num arranque forte
Vem depressa ver-me, filho meu
Vê se chegas primeiro que a morte
Sem poder esconder a sua mágoa
Vai num táxi em louca corrida
E com os olhos quase rasos de água
Ao "chauffeur" assim lhe dizia:
Corre, chega primeiro que a morte
Anda, ó que dor forte me dá
Quero com que esse teu carro corte
Estradas que se prolongam até lá;
Quero beijar minha mãe querida
Quero vê-la com vida p’ra eu ser feliz
Quero dela a sua benção
O eterno perdão em tudo quanto lhe fiz
O carro tanto correu que voou
Pois talvez perseguido p’la má sorte
E já longe uma curva encontrou
E os dois tiveram logo a morte
Ao receber a noticia, a pobre mãe
Que no caminho tinha morrido seu filho
Ela com pouca vida morreu também
Mas antes deixou este estribilho
Vinhas em louca corrida
Filho, julgando tu me dares vida
Pois, tua mãe já o sentia
Sim, toda a esperança perdida;
Agora que eu também vou dar fim
Tu morreste por mim e eu morro por ti
Que Deus perdoe lá no céu
A mim e ao meu filho
Em paga do que sofri