Repertório de Carlos do Carmo
Por trás da pedra dura, pedra negra
Para além destas encostas
Um homem quando nasce é como a pedra
E o marão volta-lhe as costas
Ai como é duro este centeio
Com as altas montanhas pelo meio
E um homem que é um pássaro sem lar
Poderá por não ter chão, saltar
Por detrás de Trás-os-Montes
É numa cama de vento
Que se deitam horizontes
Que se deitam horizontes
Nos lençóis do sofrimento
Por detrás de Trás-os-Montes
Um cobertor de geada
Gela a garganta das fontes
Gela a garganta das fontes
Mas o frio não sabe a nada
Por detrás das mãos rugosas e da mágoa
Para aquém desta grandeza
Os homens transmontanos choram água
Pelos olhos da tristeza
Pois quando um homem chora á portuguesa
A raiva é maior do que a pobreza
E um homem que é um pássaro sem lar
Poderá tendo mulher, saltar
Por detrás de Trás-os-Montes
Por detrás das mãos rugosas e da mágoa
Para aquém desta grandeza
Os homens transmontanos choram água
Pelos olhos da tristeza
Pois quando um homem chora á portuguesa
A raiva é maior do que a pobreza
E um homem que é um pássaro sem lar
Poderá tendo mulher, saltar
Por detrás de Trás-os-Montes
A mulher é de granito
Os seus braços duas pontes
Os seus braços duas pontes
Entre o ventre e o infinito
Por detrás de Trás-os-Montes
Os homens são andarilhos
Seus barcos arcos das pontes
Seus barcos arcos das pontes
Que ligam a terra aos filhos
Por detrás da pedra negra
Por detrás da pedra negra
Anda tanta, tanta fome
Que um homem quando emigra
Que um homem quando emigra
Esquece até o próprio nome
Em Trás-os-Montes chamado
Em Trás-os-Montes chamado
Zé Mário no seu país
Seu nome está exilado
Seu nome está exilado
Como se chama em Paris