Letra de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Se pudesse ser aberto
Hoje o peito de Camões
Encontrariam, decerto
Lá dentro dois corações
Ninguém no mundo se afasta
Das leis que o amor nos dita
Porque é ele a lei bendita
Que nossos peitos arrasta;
Mas quanta vez é nefasta
A vida de amor incerto
Porque um peito não liberto
Dessa sagrada ambrosia;
Só mágoas nos mostraria
Se pudesse ser aberto
Camões o vate imortal
Não pode fugir ao jugo
Do amor, esse verdugo
Que o mundo adora, afinal;
Por Natércia, teve o mal
Que sempre dá as paixões
Sofreu mágoas, ilusões
A vida foi-lhe inclemente;
E afinal, é pó, somente
Hoje o peito de Camões
Por esse amor conheceu
Em Macau a extrema agrura
Longe da sua ventura
Distante do pátrio céu;
Lá que, triste, escreveu
Com inflexível acerto
Esse poema que, ao certo
É bem o templo dos templos;
E onde os povos, bons exemplos
Se pudesse ser aberto
Exalçou o amor d’Inês
Suflou agrestes avenas
P’ra sofrer de amor as penas
Como nenhum português;
Natércia a vida lhe fez
Somente de privações
Mas se ao cantor dos varões
Abrísseis o peito santo;
Veríeis, talvez com espanto
Lá dentro dois corações