Francisco Guimarães / Manuel de Oliveira
Repertório de Matilde Cid
Quando acabei o meu canto
Que cantava por amar
Acordou em mim o medo
Da mudez, desassossego
De não mais poder cantar
Quando acabei os meus versos
Não sabia mais escrever
Uma prosa tão vazia
A razão escurecia
O meu jeito de crescer
Enquanto a tinta seca toda a terra gira
Gira a onda de revolta e eu não sei se volta
A canção que eu pedira
No final dás contas, são coisas vãs, banais
As flores são só flores e os ventos dissabores
E a nau não volta ao cais
E voltei eu com afinco
Tudo muda tudo passa
Mas a pena já sem tinta
Uma voz indistinta
Coração que enfim fracassa
Mas ao fundo
Há sempre um fundo
Quando acordo e se me deito
Uma porta e uma janela
Sobrevivem no meu peito