Vila Real de Santo António 18-02-1899
Loulé 16-11-1949
Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler
P'ra algumas deficiências
Que meus versos possam ter
Há luta por mil doutrinas!
Se querem que o mundo ande;
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande
Da guerra, os grandes culpados
Que espalham a dor na terra
São os menos acusados
Como culpados da guerra
Se fazes tudo ás avessas
Para que prometes tanto?
Não me faças mais promessas
Não escolho amigos à toa
Sempre temendo algum perigo
Primeiro, escolho a pessoa
Depois, escolho o amigo
Sei que pareço ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Que sem parecer o que são
São aquilo que eu pareço
Não sou esperto nem bruto
Nem bem nem mal educado
Sou apenas o produto
Do meio em que fui criado
Contigo em contradição
Pode estar um bom amigo
Duvida daqueles que estão
Sempre de acordo contigo
A vida é uma ribeira
Caí nela, infelizmente
Hoje vou, queira ou não queira
Aos trambolhões na corrente
Loulé 16-11-1949
Peço às altas competências
Perdão, porque mal sei ler
P'ra algumas deficiências
Que meus versos possam ter
Há luta por mil doutrinas!
Se querem que o mundo ande;
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande
Da guerra, os grandes culpados
Que espalham a dor na terra
São os menos acusados
Como culpados da guerra
Se fazes tudo ás avessas
Para que prometes tanto?
Não me faças mais promessas
Não escolho amigos à toa
Sempre temendo algum perigo
Primeiro, escolho a pessoa
Depois, escolho o amigo
Sei que pareço ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Que sem parecer o que são
São aquilo que eu pareço
Não sou esperto nem bruto
Nem bem nem mal educado
Sou apenas o produto
Do meio em que fui criado
Contigo em contradição
Pode estar um bom amigo
Duvida daqueles que estão
Sempre de acordo contigo
A vida é uma ribeira
Caí nela, infelizmente
Hoje vou, queira ou não queira
Aos trambolhões na corrente
Ser artista é ser alguém
Que bonito é ser artista
Ver as coisas mais além
Do que alcança a própria vista
A ninguém faltava o pão
Se este dever se cumprisse
Ganharmos em relação
Com o que se produzisse
Vinho que vai p'ra vinagre
Não retrocede o caminho
Só por obra de milagre
Volta de novo a ser vinho
Ao chamar-te inteligente
Ficaste desconfiado
Por ser um nome diferente
Dos que te têm chamado
O mundo só pode ser
Melhor do que até aqui
Quando consigas fazer
Mais p'los outros, que por ti
Se pedir, peço cantando
Sou mais atendido assim
Porque se pedir chorando
Ninguém tem pena de mim
Entre leigos ou letrados
Fala só de vez em quando
Que nós, às vezes calados
Dizemos mais que falando
És um rapaz instruído
És um Doutor!... em resumo
És um limão que espremido
Não dá caroço nem sumo
Fui polícia, fui soldado
Estive fora da nação
Vendo jogo, guardo gado
Só me falta ser ladrão
São João, reparem nisto
Teve este grande condão
Ao batizar Jesus Cristo
Foi quem fez Cristo, cristão
Ontem rei, hoje sem trono
Cá ando outra vez na rua
Entreguei a roupa ao dono
E a miséria continua
Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo
Que importa perder a vida
Na luta contra a traição
Se a razão mesmo vencida
Não deixa de ser razão
Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo
Calai-vos que pode o povo
Querer um mundo novo a sério
O pão que sobra à riqueza
Distribuído p'la razão
Matava a fome à pobreza
E ainda sobrava pão
Para-raios nas igrejas
É p'ra mostrar aos ateus
Que alguns padres que eu conheço
Não têm confiança em Deus
Quando a verdade os aterra
Querem a moral pregar
Prometendo no céu dar
O que nos roubam na terra
Eu não tenho vistas largas
Nem grande sabedoria
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia
Embora me queiras tanto
Quanto pode o bem-querer
Não me queres tanto quanto
Te quero sem te dizer
Não digas que me enganaste
Por ter confiado em ti
Muito mais do que levaste
Ganhei eu no que aprendei
Só quando sinceramente
Sentirmos a dor de alguém
Podemos descrever bem
A mágoa que esse alguém sente
Vejo a arte definida
Na forma de escrever
O bem ou o mal que a vida
Nos faz gozar ou sofrer
Traz-me num desassossego
O alívio à minha cruz
Quando tal qual o morcego
Ao deparar com a luz
Ó quem me dera, sozinho
E em quatro vezes somente
Cantar ao mundo inteirinho
A mágoa de toda a gente
Desprezo o que eles preferem
Porque quero ser sincero
E quero o que eles não querem
Por não quererem o que eu quero
Nao sei o que de mim pensam
Quando me vêem chorar
Mas quero que se convençam
1ue a dor também faz cantar
Para que não te iludas
Com amigos pensa nisto:
Foi com um beijo que Judas
Levou à Cruz Jesus Cristo
Negociando viveste
Tens dinheiro e excelência
São coisas que recebeste
A troco da consciência