FECHO do BLOGUE em EQUAÇÃO

QUE ME DIZEM?
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
<> 7.440 LETRAS <> 3.530.000 VISITAS <> OUTUBRO 2024 <>
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

*

Imprevisto

Maria do Rosário Pedreira / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Pedro Moutinho

De nada sabe quem olha
A rua ao entardecer
Não vê no cair da folha
Aquilo que vai perder

Não vê na luz que se evade
A escuridão que lhe toca
Nem na súbita saudade
O beijo que falta à boca


Não vê na estrela que morre
O seu desgosto profundo
Nem no minuto que corre
O tempo que foge ao mundo

Também eu nada sabia
De quanto me aconteceu
Tão perto de mim fazia
Esse amor que me esqueceu

Acordar contigo

Letra e música de José Hibérico Nogueira
Repertório de Teresa Lopes Alves

Tu que dizes ter um sonho
Que às vezes é medonho
E que a noite acordou
Lembra que foi nos teus braços
Entre muitos mil cansaços
Que Morfeu te abandonou

Vê que eu fico do teu lado
Sempre perdido e achado
Procurando o teu prazer
Mesmo quando me enjeitas
Com tuas falsas suspeitas
De outro alguém me adormecer

Sei que no dia seguinte
Junto a ti, como um pedinte
Um sorriso encontrarei
Pois o amor é um momento
Revoltado como o vento
Sem barreiras e sem lei

Vem ver a vida sorrir
Sem mais precisar mentir
Querendo apenas te encontrar
Sabes, contigo a meu lado
Vivo um tempo sem passado
Nunca é tarde para acordar

Beijo alentejano

Tiago Torres da Silva / Carlos Gonçalves
Repertório de Nuno da Câmara Pereira


Dizem que no Alentejo
Tudo é feito devagar
E assim que termina a sesta
Só se pensa em descansar

E a gente não entende
A razão de tanta pressa
Se depois de cada noite
Há um dia que começa

Um beijo no Alentejo
É dado devagarinho
Que a gente sabe que um beijo
É muito mais que um carinho
Por isso é que quem cá vem
Tem pena de não ficar
Ao ver o gosto que tem
Um beijo dado devagar


Quando uma estrada começa
Os homens pensam assim
Vá devagar ou depressa
Um dia chega-se ao fim

E quando as mulheres mondam
Olhando mais para além
Às vezes perdem os olhos
Na pressa que o amor tem

Não foge a água da fonte
O sol demora a nascer
E até a erva do monte
Leva o seu tempo a crescer

Quem vier venha com calma
Porque olhando a nossa gente
Só lhe pode ver a alma
Quem não olhar de repente

Beijos quentes

DR / Popular *fado mouraria*
Repertório de Maria Albertina no filme 
*A canção de Lisboa*

Deste–me um beijo ao erguer-te
Oh! meu amor, minha vida
Mas vê, não podes esquecer-te
De dar-me um beijo à saída

Da janela ‘inda te vejo
Enquanto a esquina não viras
Alegre à espera do beijo
Que lá de longe me atiras

E a tarde inteira indolente
Fico a esperar enamorada
Aquele beijo tão quente
Que me vais dar à chegada

Cortar a direito

Tiago Torres da Silva / Bruno Chaveiro
Repertório de Margarida Guerreiro


Quem pensa que o coração
Aprende a dizer que não
Por ter batido demais
Há-de passar toda a vida
À espera de uma batida
Que não vai chegar jamais

O coração não sossega
Sem brincar à cabra-cega
Com o sim e com o não
Dentro de nós, ele diz
Prefiro ser infeliz
A não ser um coração

Se, por vezes acelera
Os braços ficam à espera
Do que o levou a bater
Por não haver explicação
Vão atrás do coração
E começam a viver

Se o teu coração disser
Que não ama... que não quer
Sofrer o que já sofreu
Há que cortar a direito
Tens que arrancá-lo do peito
Porque ele já não é teu

Que flor se abre no peito?

Letra e música de Pedro Abrunhosa
Repertório de Camané


Que flor se abre no peito
Minha voz amanhecida?
Uma flor de amor refeito
Proa de fogo no leito
Leva a barra de vencida

Tempestade contra o molhe
Um navio ao fim da tarde
Vou dum tempo que se esconde
Para um mar que já me foge
Ainda o teu amor me arde

Minha voz abandonada
Pela noite se faz tua
Ecos de casa fechada
Nos teus beijos, encontrada
Em vertigem de loucura

Barco que o céu não derrota
Corpo a corpo acendido
Filho que aos meus braços torna
Vem beijar quem não te encontra
Pelo Fado foi rendido

Traz a noite a minha porta
Corpo e corpo abençoado
Vem beijar-me de revolta
Um verão com neve à solta
Do teu beijo não me aparto

Campo Grande dos meus olhos
Pecado em porto escondido
Barco que traz o teu nome
Esta noite vou contigo

Traz a noite à minha porta
Corpo a corpo abençoado
Vem beijar-me de revolta
Um verão com neve à solta
Do teu beijo não me aparto

Campo Grande dos meus olhos
Pecado em porto escondido
Barco que traz o teu nome
Aporta em mim o ciúme
Esta noite vou contigo

Inferno do céu

Pedro da Silva Martins / Luís José Martins
Repertório de Cristina Branco


Que Deus Nosso Senhor não oiça
O que eu vou confessar agora
Eu sinto um diabo à solta
Que não vai embora

Que Deus Nosso Senhor não veja
A tentação que me seduz
Se o hábito é que faz a freira
Quem seremos nus?

A modos que eu vinha p’ra me confessar
O amor que lhe tinha e tenho p’ra dar
Se não morre meu, se não morro eu
Não desço sozinha ao inferno do céu


Que Deus Nosso Senhor não puna
A minha humanidade vã
Eu carrego a cruz impura no meu sutiã

Que Deus Nosso Senhor nos livre
Do pecado que é não ter
Um castigo que nos prive de nunca saber

Não morro sozinha
No inferno do Céu

Imenso

Amália / Carlos Gonçalves
Repertório de Paulo Bragança

Ai como eu quero viver no plural
Este singular é pior que mal
Cavaleiro ignoto na eternidade
Exílio nos mares da minha saudade

Ignorar em mim a maior solidão
Mesmo na rua, sem tecto nem chão
Enganar o espelho com retratos de mim
Não tenham certezas, eu não sou assim

Achado no espaço
Esquecido p’lo mundo
Não tenho cansaço
Sou eco profundo
Quero ser plural
Crescente, minguante
Viver num segundo
O eterno instante;
Não tenham certezas
Eu não sou assim


Nascer larva, morrer borboleta
Lagarta crisálida de cor violeta
Ser águia, luar, com mãos de veludo
Desta saudade de nunca ser tudo

Lembrar de Deus a voz num jardim imenso
Ser poeta do espaço, do ser que me penso
Ser do Oriente a ave que me espalha
Trazer comigo a luz numa medalha

O carcereiro

DR / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Maria Lisboa


Junto de uma cadeia, um carcereiro
O seu lar construiu, amor traduz
Fruto desse grande amor primeiro
Uma linda criança veio à luz

Fôra a criança o sol daquele lar
Da imensa solidão, e de alegria
Pois era tão só aquele lugar
Que apenas na prisão um preso havia

Sem nome os pais deixaram a filhinha
Até que um sacerdote, um bom velhinho
Passou e batizou a criancinha
Convidando o preso para padrinho

À criancinha beijando o lindo rosto
Diz-lhe o preso a chorar e de saudade
Liberdade é o nome que eu mais gosto
Quero que ela se chame liberdade

Depois do batizado junto à grade
Num sorriso através do cativeiro
Viu afastar-se dele a liberdade
Nos braços da mulher do carcereiro

Muito obrigado Benvinda

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Ir a Portugal um dia
Um sonho da mocidade
Dona Benvinda Maria
Tornou em realidade

Dona Benvinda, muito obrigado
Por tudo aquilo
Que nos tem dado
P'las alegrias que a mil já deu
Dona Benvinda
Há-de ir p'ra o céu


Quando a gente ao Rio voltar
Diremos ao pessoal
Como foi gostoso estar
Este mês em Portugal

E p'ra o ano quem vier
Neste rancho, coisa linda
Também tem que agradecer
À nossa querida Benvinda

Já soube um dia a maneira

Zé Maria / Alfredo Duarte *fado pájem*
Repertório de Zé Maria


Já soube um dia a maneira
De regressar para ti
Já te encontrei à primeira
Mesmo quando não te vi

Já um dia fui capaz
De me afastar sem tormento
Mas tornou-se mais audaz
E incauto, o afastamento

E embrenhei-me sozinho
Em tais dores e cansaços
Que me esqueci do caminho
Para voltar aos teus braços

Por isso, nesta agonia,
Porque achar-te não consigo
Peço-te, de mãos vazias
Que venhas tu ter comigo

Valsa das sombras

Vasco Graça Moura / Gonçalo Paredes e Artur Paredes
Repertório de Mísia


Agora esta valsa na lenta espiral
Do baile de sombras em que às vezes danças
Quando a noite cai e é de pedra e cal
No espelho vazio das minhas lembranças

Agora esta valsa no avesso dos dias
Na melancolia das suas oitavas
Repete de leve nas horas sombrias
As loucas palavras que me murmuravas

Agora esta valsa quando te atravessas
Nesta solidão envolta num xaile
Lembra-me uma a uma as tuas promessas
Na luz apagada deste fim de baile

Qualquer valsa agora são passos em volta
Na vida sem rumo, o adeus é cruel
Galopam as nuvens deixadas à solta
Ficou-me o deserto, ainda sabe a mel

Vejo o teu vulto e é muito tarde
Nesta distância sem regresso
Talvez a vida me acobarde
Se à tua ausência eu me confesso

Nem saberei o que me espera
Nem que rosário de amargura
Nem se é inverno a primavera
Nem se este amor se fez loucura

Romance sem nada

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


A história do nosso amor
Não vale a pena contar
Foi um romance vulgar
Uma edição sem valor

Ao princípio cor-de-rosa
É assim todo o começo
E tão depressa o avesso
Dessa colorida prosa

Aconteceu num relance
Porque o ciúme maldito
Riscou tudo o que foi escrito
No nosso pobre romance

Perdida a graça e a cor
Nada ficou p’ra contar
Por isso p’ra quê falar
Na nossa história de amor?

Às vezes há um silêncio

Sebastião Cerqueira / João David Rosa *fado rosa*
Repertório de Camané

Às vezes há um silêncio
Calado dentro de nós
Que em silêncio avança
E aos poucos nos cansa a voz

Se os dias fazem doer
Com cada hora vazia
Aos poucos vai a descer
Como uma sombra viria

Vi a noite escura e fria
Não vi por onde sair
Nem vi o dia a seguir
E o silêncio como o vento;
Fechou-me inteiro por dentro
Para ninguém mais me abrir

Esqueci das flores, as razões
As andorinhas partiram
Perdi as quatro estações
E as quatro que se seguiram

Tudo que os meus olhos viram
Não me parecia tocar
Parecia só passar
Até que um dia por fim;
Calei o silêncio em mim
E comecei a cantar

Voltaram as andorinhas
Lembrei das flores, as razões
E hoje as estações são minhas
Como as minhas canções

Deolinda

Letra e música de Pedro da Silva Martins
Repertório de Cristina Branco


Falem, que me importa falem, não quero saber
Digam o que digam, que podem dizer?
Se o mal criticam, se bem vão querer
Digam o que digam, que posso eu fazer?

Sou tanta incerteza que o mais certo em mim
É nem ser por certo, é nem estar aqui
Para mim sou tanto e há tanto em mim
Que eu sei lá quem sou...

Quem quiser falar de mim, que fale
Quem quiser saber de mim, pergunte
E quem sabe se eu direi a verdade
Isto de ser ou não ser, confunde...


Falem, que me importa, falem sem nada saber
Digam o que digam, só me fazem crer
que eu aqui existo, seja eu lá quem for
Digam o que digam, quem me vê melhor?

Se a porteira cusca que me topa bem
Se a padeira astuta que é cusca também
Se é que sabem tanto, esclareçam-me enfim
afinal quem sou?

Quem quiser falar de mim, que fale
Quem quiser saber de mim, pergunte
E quem sabe se eu direi a verdade
Isto de ser ou não ser, confunde...

Quem quiser falar de mim, verdade
Quem quiser saber de mim, confunde
E quem sabe se eu direi a verdade
Isto de ser ou não ser, pergunte

Quem sabe o que eu direi pergunte
Quem quiser saber de mim não sabe
Quem quiser falar de mim, confunde
Que isto de ser ou não ser verdade

Quem quiser falar de mim, já sabe
Quem sabe se o que direi, confunde
Quem quiser saber de mim, verdade
Isto de ser ou não ser, pergunte

O meu caixão de loucura

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O meu caixão de loucura
De pinho, de negro pinho
De pinho dos pinheirais
Foi talhado com ternura
Por mim, só por mim sozinho
Só por mim, por ninguém mais

Foi pregado secamente
Polido por meigos dedos
Talhado por mim sozinho
O meu caixão é diferente
Tem lá dentro mil segredos
É feito de negro pinho

É frio como a verdade
Tem a beleza do amor
O perfume dos roseirais
Tem o rumor da saudade
Aquele manso rumor
Do vento nos pinheirais

Deixa passar

Mafalda Arnauth / Tiago Machado
Repertório de Mafalda Arnauth

Flutua um som em ti
Que te quer conquistar
Que pede para entrar
Que pede p’ra deixar sair a dor
Que ocupa o seu lugar
Num espaço a inventar de amor

Deixa, deixa sair
Deixa, deixa passar
Deixa vir outra forma de amar
Deixa ser outro fado a cantar
Deixa haver outro enredo no teu rumo
Deixa a vida vir e te levar
Deixa a dor tornar-se fumo e passar


Num leve suspirar, de Deus
A vida ganha forma e pede para entrar
E pede p’ra ficar junto da margem
De onde tanto queres fugir
P’ra te contar
P’ra ’além da dor, o que há por vir

O cruzeiro

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


No mais ermo do caminho
Há um cruzeiro velhinho
Bem erguido junto à estrada
Era ali que vinham dantes
P’ra rezar os caminhantes
À cruz de pedra musgada

E hoje, o velho cruzeiro
Chora triste o mundo inteiro
Daquela era passada
Só um trapeiro velhinho
Interrompe o seu caminho
E reza com voz magoada

E a cruz de pedra musgada
Bem erguida junto à estrada
Ouve essa prece fremente
Grata, a sombra do cruzeiro
Beija de leve o trapeiro
À luz do sol poente

As ilhas afortunadas

Fernando Pessoa / Popular *fado menor-maior*
Repertório de Camané


Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala
Mas que se escutarmos cala
Por ter havido escutar

E só, se meio dormido
Sem saber de ouvir, ouvimos
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos

São ilhas afortunadas
São terras sem ter lugar
Onde o rei mora esperando
Mas se vamos despertando
Cala a voz e há só o mar

Só as palavras não contam

António Laranjeira / André Teixeira
Repertório de Mariana Correia


Sei ler o que teu corpo me diz
Quando me olhas, sorris
Só as palavras não contam
Sei ler o que o desejo me faz
Quando teu beijo me traz
Silêncios que nos confrontam

E assim, quero-te perto de mim
Se vens e dizes que sim
Quando me abres a porta

E ali, tu por mim e eu só por ti
Nunca de nós desisti
E tudo mais não importa

Não sei se amo mais do que amei
Se por amor encontrei
Esta dor quase solidão
Talvez sejas o mundo que Deus fez
Vertigem pura ou nudez
Quando for teu meu coração

Depois
Ficamos sós por nós dois
Sem nos perdermos nos faróis
Que cegam sem nos derrubar
Ninguém
Tem esperança se não vens
Eu sei que chegas porque tens
A luz do sol no teu olhar

Mais do mesmo

Duarte / Joaquim Campos *fado rosita*
Repertório de Duarte

Mais do mesmo… porque sim
Mais do mesmo… porque não?
Mais do mesmo porque enfim
Mais do mesmo até mais não

Mais do mesmo que te dão
Mais do mesmo a que te dás
Mais do mesmo é ter razão
Mais do mesmo tanto faz

Mais do mesmo sem pensar
Mais do mesmo é consumir
Mais do mesmo se calhar
Mais do mesmo faz-me rir

Mais do mesmo, assim-assim
Mais do mesmo, pois então
Mais do mesmo… porque sim!
Mais do mesmo… porque não?

Jacarandá

Letra e música de Jonas
Repertório do autor

À sombra de um jacarandá
Vejo um banquinho rosa 
E de mansinho
Vou sentar-me nele a pensar 
Na história que sou
Na minha frente passam fotos
Polaroid, a sépia
A preto e branco e a cores
A recordar o meu caminho e aonde vou

Revejo a carta que escrevi
Gajo que não respondeu
Vejo o cachimbo do avô
De fato escuro e de chapéu

E o chapéu de chuva preso
Na boca de incêndio aberta
Mais os poemas que escrevi
Como presente à dona Berta

E a avó de bata e avental
A cuidar do jardim e das figueiras
Que trepava com a mana 
Já no fim do verão
E na lagoa
A cabana no pinheiro manso

Onde aquecia o café roubado 
Com os primos à Ti São
E o postal que recebi
De Londres só a dizer sim
Mais o livrinho do Antoine
Que guardo hoje só p’ra mim

As personagens de Lisboa
Estranhas como manda a lei
Desconhecidas, conhecidas
Do outro lado o Cristo Rei

Pergunto aos meus botões
Como será ser velho enrugado
Toda a vida presa às costas 
Lá atrás a ganhar pó
Penso nos netos que vou ter
Se vão gostar do avô
Ir ao cinema juntos
Ver a Disney e no medo de estar só

Na encarnação insustentável
A leveza do meu ser
Vidas passadas, karma bom e mau
No momento de morrer

Regresso a mim olho p’ra cima
Jacarandá alto e sereno
Fecho os meus olhos p’ra sentir
0 entardecer quente e ameno

Porquê saudade

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Saudade, porque é que moras
Nas paredes do meu peito
Sabendo que não te aceito
Porque é que tu te demoras

Saudade, porque é que insistes
Em viver na minha vida
Sonho co’a tua partida
Porque é que tu não desistes

Saudade, porque ardilosa
Me persegues noite e dia
Cansa a tua companhia
Porque és assim tão teimosa

Saudade, porque é que hás-de
Trazer-me sempre à memória
Essa história que sem história
Não merece uma saudade

Noite transfigurada

Letra e música de Jorge Palma
Repertório de Camané


Podes estar enamorada
Podes estar apaixonada
Nalgum delírio sem fim
Mas não podes de repente
Fazer-me sentir ausente
Do teu caminho até mim

Porque os sulcos que traçámos
Tudo aquilo que gravámos
No leito do nosso rio
Não se esgota num segundo
Em nenhum canto do mundo
Faça sol ou faça frio

Aqui não cabe a razão
Nem qualquer explicação
Não há nada a perdoar
0 ciúme foi-se embora
Deixou a chave de fora
Para tu poderes entrar

Ao romper da madrugada
A noite transfigurada
Ilumina o meu olhar
De braço dado contigo
Não importa o que te digo
Ao ver os barcos passar

Quadras de amor

Silva Tavares / Popular *fado mouraria*
Repertório de Carlos do Carmo

Por mais que digas que não
Fez-se uma sombra entre nós
Não sinto o teu coração
Quando escuto a tua voz

Trago tão acostumados
Aos teus, meus olhos, amor
Que às vezes de olhos fechados
‘Inda te vejo melhor

Ando triste sem razão
Detesto quem me conforta
E só sinto o coração
Quando passo à tua porta

Teus olhos indefinidos
São labirintos de cor
Onde os meus cinco sentidos
Andam perdidos de amor

Estrela perdida

Carlos Conde / Popular *fado menor*?
Repertório de Filipe Pinto
Também gravado com o título *Estrela no céu*

Tive uma filha, morreu
Deus levou-ma, fez-me guerra
Pôs uma estrela no céu
E uma saudade na terra

E à noite, que maravilha
Em meus sonhos ideais
Vejo sempre a minha filha
Na estrela que brilha mais

Ai, como eu tenho sonhado
Com a luz daquela estrela
Sonho com ela acordado
E a dormir sonho com ela

Já que tal dor me impuseste
Ó Deus que me torturaste
Dou-te a vida que me deste
Pela filha que me roubaste

A ilusão de um grande amor

António Laranjeira/ Armandinho *fado mayer*
Repertório de Mariana Correia

Não sei dizer
Será saudade, será ciúme
Quando te vejo
Este desejo é quase lume
Não sei explicar
Esta tristeza que trago em mim
P'ra não chorar
Chego a pensar que sou assim

Um grande amor não se esquece
Nem pode ser diferente
Por muito que se ausente
Não cabe na razão
Num grande amor
Não há tristeza nem dor
É saudade que se sente
Num coração sofredor

Não sei de mim
Há tanto tempo nesta incerteza
Sinto ternura, será loucura
É com certeza
Quanto mais penso
Mais me convenço que nada fiz
P'ra não chorar
Quero pensar que sou feliz

Já não há tempo

Fernando Gomes / Fernando Freitas *fado pena*
Repertório de Peu Madureira


A vida diz ao tempo que não corra
O tempo não a escuta e vai em frente
E enquanto ela o persegue até que morra
O tempo continua indiferente

O tempo ordena à vida: não te atrases
A vida bem se esforça por prendê-lo
Se todos os instantes são fugazes
Há que os aproveitar sem desmazelo

Na infância, todo o tempo é infinito
Depois vai começando a escassear
Por fim, a vida aceita o veredito
De que nada adianta em se atrasar

Mas por gastarmos tanta, tanta vida
Na pressa de agarrar cada momento
Quando queremos travar essa corrida
O tempo já passou, já não há tempo

Hino à cantadeira

António Manuel Moraes / Custódio Castelo
Repertório de Margarida Guerreiro

Passou por mim a cantadeira
De corpo nu e cor de cobre
Cantou o morna a noite inteira
Fiquei rico, era pobre

Cantava a alma de crioula
O destino de um mar que é ilhéu
Agora a imagem vou repô-la
Em versos de um poema meu

Menina de ancas semi-nuas
Nascidas para os lados do Mansoa
Hoje sonhas fados
Nestas ruas de Lisboa

Vi-te passar, a pele doirada
Sorriso aberto sem borel
Lançando perfume na estrada
De um fado, de um romance e de cordel

Caminhas animada e dengosa
Doce exótico de baunilha e canela
Fina graça sensual deliciosa
Vinda da caravela

Madalena

2º ato da ópera *O Nazareno*
José Agostinho / Frei Hermano da Câmara
Repertório de Amália

Eu soube, num sonho, que aí com Simão
Jantáveis, ó Cristo, de faces radiosas
E trago-vos bálsamos, trago-vos de rosas
E trago mil beijos de límpida unção

Deixai que estas lágrimas tão dolorosas
Vos verta nos pés que iluminam o chão
Esses pés de marfim que me enchem
De santa e fremente paixão
E lembram as bases do meigo jasmim

Quero o eterno amor, quero o eterno amor
O amor sem vergonha sem treva e sem fim
Sem trave e sem fim
Jesus Nazareno, meu sol, meu Senhor
Jesus Nazareno, meu sol, meu Senhor

Ó Cristo… deixai
Que esses pés vos alague de prantos assim
Talvez que este choro os meus crimes apague
Talvez que esta dor meus remorsos esmague
Talvez que esta angústia me faça um jardim

Que eu chore, que eu gema numa dor sem fim
Aos pés de quem fez da virtude um poema
Da virtude um poema
Deixai que eu enxugue com estes cabelos
Os pés já banhados por dor tão suprema

E bálsamos verta, talvez porque tema
Que os prantos vos firam os pés com seus gelos
Com sua postema e amarga paixão,
Ó Cristo, ó vidente de meigos anelos
Jesus Nazareno o perdão e perdão
Jesus Nazareno o perdão e perdão

Marcha do mercado do Chão do Loureiro

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Lisboa tem tanto mercado
Mas um é lembrado Mesmo a quem não queira
Embora já não exista
A velha e benquista Praça da Figueira

Na noite de S. João
Tinham tradição os seus arraiais
Mas tudo o tempo mudou
E apenas deixou saudades demais

Praça velhinha
P’ra gente alfacinha de saudade eterna
Foste mudada
E estás transformada numa praça moderna

Ela não morreu
Pois outra nasceu de aspecto altaneiro
Tem um passado
O novo mercado do Chão do Loureiro

E se não for fado

Tiago Torres da Silva / Francis Hime
Repertório de Mafalda Arnauth


E se não for fado
Mas trouxer a voz do mar
Que deixa o cheiro salgado
À beira do meu olhar

E se não for triste
Mas tiver a voz de Deus
Essa voz que em mim persiste
Quando os dias são ateus

E se não for nada disso
Pois a minha timidez
Não o deixa ser castiço
Quando o quer mais português

Pode ser que seja um fado errado
Que a minha alma aprendeu
Não será o vosso fado
Não será o mas é o meu

E se não for fado
Mas correr na direção do rio
Que banha apressado
As margens da minha mão

E se não for negro
Mas pintar todas as cores
Que dão igual aconchego
Aos sorrisos e às dores

E se não for nada disso
E se não for nada disso

Palavra adeus

Rui Manuel / Vital d’Assunção
Repertório de Rosa Maria Duarte

Adeus é uma porta que se fecha
É vela que soprada se apagou
É mágoa que se leva e que se deixa
É uva feita vinho que azedou

Adeus é uma insónia que madruga
É nó que se desata sem vontade
É chave de uma casa que se aluga
A meio da avenida da saudade

Adeus é um vazio adivinhado
Na súbita frieza dos lençóis
É esquina do presente com o passado
É vírgula entre o antes e o depois

Adeus é uma lágrima no cais
É algo que somado, diminui
É espelho que reflete o nunca mais
É tempo que no tempo se dilui

Rainha santa

Frederico de Brito (ou) Gabriel de Oliveira / Alberto Ribeiro
Repertório de Alberto Ribeiro

Desgarradas em Coimbra
São amores que vão distantes
Pois é lá que o fado timbra
Na boca dos estudantes

Quando não se ouvem cantar
No Mondego, os seus doutores
Dona Inês fica a chorar
Lá na Fonte dos Amores

Quando a estudantada canta
Baladas sentimentais
Dizem que a Rainha Santa
Vem escutar, junto aos vitrais

Dos homens que se formaram
Na velha Universidade
Há saudades que ficaram
No Penedo da Saudade

Depois da Queima das Fitas
Coimbra não tem sossego
Choram tricanas bonitas
Pelas margens do Mondego

Gastei tempos de amor

Maria de Lourdes de Carvalho / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Celeste Maria


As noites e os dias vi correr
A sós, com o silêncio e meu penar
Contei uma a uma minhas lágrimas
Gastei tempos de amor sem amar

Sem ti, bastarda da vida, eu julguei
Jamais poder viver, poder cantar
De largos prantos meu rosto marquei
Esperando em cada noite o teu voltar

Passei uma e outra noite à tua espera
Ouvindo em quem passava, os passos teus
Saí, fui pela rua e encontrei
Uns lábios, que de beijos, são só meus

A noite noutro dia se tornou
Aprendi que sou mulher p’ra te deixar
E agora, podes vir quando quiseres
Mas amor já não tenho p’ra te dar

Olá Rosa de Lisboa

Mariana Coreia / João Ferreira Martins
Repertório de Mariana Correia


Olá Rosa de Lisboa
Dá-nos lá o teu sorriso
Só co’a tua Madragoa
Não se enfeita o paraíso

É preciso, sim, ó Rosa
Também o teu ar travesso
Porque tu, rosa formosa
Tens raça em teu arremesso

Flor das flores ou dos limões
Rosa na cor pombalina
Rosa graça em teus pregões
Rosa amor, Rosa menina;
Ai Rosa, linda varina
Que de Lisboa és figura
Que trazes a tua sina
Na canastra que te augura


No teu perfume há saudade
Quando a cidade entoa
Prosas, mares de liberdade
Por ti, Rosa de Lisboa

Tens a noite e o luar
Para o teu passo indeciso
E no rosto, p'ra nos dar
Rosa, esse teu sorriso

Papoilas

Barão de Ortega / Jaime Santos *corrido do mestre zé*
Repertório de Zé Maria


Papoilas que o vento agita
Não me canso de vos ver
Há lá coisa mais bonita
Que ser simples sem saber


Ceifeiras do Ribatejo
Com saias de rubra chita
Lembra-me, quando vos vejo
Papoilas que o vento agita

Morenas, lindas moçoilas
Vivem para o campo viver
Entre o trigo e as papoilas
Não me canso de vos ver

Alegres, bailando vão
Para a tarefa bendita
Entoando uma canção
Há lá coisa mais bonita

Ignoram sua beleza
Não têm espelho para a ver
Há lá tamanha grandeza
Que ser simples sem saber

Tempo de ter tempo

Artur Ribeiro / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Jorge Martinho


É tempo de ter tempo para tudo
E de notar que ainda há primavera
É tempo de tentar o absurdo
E não gastar mais tempo nesta espera

É tempo de tentar e conseguir
Aquilo que sonhamos vida fora
Tempo de dar ouvidos e seguir
A voz do coração em cada hora

É tempo de ter tempo para amar
Amar perdidamente sem rodeios
É tempo de ser fado e de cantar
Em vez de segredar nossos anseios

É tempo de não irmos a destempo
De ver o céu e dar pelas estrelas
É tempo de voltar atrás no tempo
E dividi-lo todo em coisas belas

Deste-me um beijo

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Deste-me um beijo a brincar
E foi nessa brincadeira
Que eu sem qu’rer ou sem pensar
Me prendi p’rá vida inteira

Hoje não posso passar
Sem o calor dos teus beijos
Tua boca é o altar
Onde rezo os meus desejo

Teus beijos são orações
Teus lábios a doce ermida
Onde os nossos corações
Dão razão à nossa vida

E é um beijo, um doce beijo
Que carinhoso me dás
Que me cega, pois não vejo
Nada no mundo capaz

Capaz de me dar maior
Mais louca felicidade
Nesta certeza de amor
Por ser amor de verdade

Delicadeza

Letra e música de Francisca Cortesão
Repertório de Cristina Branco

Se sou elegante e tenho tudo no lugar
Se perdi a graça por me irritar
Se me comporto, se dou para o torto
Hão-de me informar

Já não me trava o medo de falhar
Brinco com o fogo até me queimar
Não tenho marido, não tenho dormido
Hei-de me salvar

Eu não sou de ferro
Nem sou de fraca constituição
Quero sentir-me sempre em casa
E nunca me pôr em causa
E nunca mais ter de me explicar
Com delicadeza


Quero fruir da minha forma
E matar a minha fome
E que nunca mais me digam o que pensar
Com delicadeza

Quero fruir da minha forma
Qual é a idade em que já não se quer saber
Cheguei lá sem me aperceber
Co’a cabeça no que há-de vir
Olho para o espelho antes de sair
E digo “nada mal"

Quando quiseres voltar

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Quando quiseres voltar à minha vida
O teu lugar em mim está guardado
Entre nós dois amor não há partida
Tens sempre o teu lugar aqui ao lado

Quando quiseres é só abrir a porta
Não batas por favor não digas nada
Não digas nada não que nos importa
O que ficou lá fora na escada

Quando quiseres voltar recomeçamos
Tudo no mesmo ponto que ficou
Eu voltarei de novo a fazer anos
E voltarei de novo a ser quem sou

Na paz do teu amor

Vasco Lima Couto / Fontes Rocha
Repertório de Margarida Guerreiro


Estou cansada de ser
Esta rua parada de mortos a dormir
Onde guardo o que posso
E onde canto o que é nosso
Ou aprendo o silêncio que não deixa fugir

Estou cansada de ouvir
As notícias mais frias que inventam o calor
Estou cansada e por isso
Dá-me tu pelo menos a paz do teu amor

Estou cansada de ver
As paredes pintadas com as tintas do vento
Onde nunca estarei porque a noite é uma lei
Que só se pode amar por trás do pensamento

Estou cansada de ter
Os dias entre os dias que fingem ter valor
Estou cansada e por isso
Dá-me tu pelo menos a paz do teu amor

Dá-me o sol da manhã
Essa esperança bendita de ter fome a sorrir
Onde corto o que posso
E onde canto o que é nosso
Apesar deste mundo o tentar impedir

Dá-me o breve resguardo
Desta canção que eu guardo com honesto pudor
E embora o ódio fale
Que tudo em mim não cale
Na paz do teu amor

Lisboa montra de recuerdos

Jonas / Alfredo Duarte *fado cuf*
Repertório de Jonas


Lisboa virou montra de recuerdos
Cheiinha de andorinhas, santos e galos
Como um cigarro a arder por entre os dedos
Lisboa virou loja de regalos

À porta tem um moço desgrenhado
De um riso emoldurado pregado ao rosto
Pergunta; do you want to listen fado?
Respondo ando meio indisposto;
Pergunta; do you want to listen fado?
Já disse; anda meio indisposto

Lá dentro o galo tuga já não canta
E até o Santo António mudou de cor
Tem o Ronaldo em estampa numa manta
Cortiça em quantidade a seu dispor

0 gordo do balcão é meio gago
Mas fala quatro línguas sem solavancos
Eu olho prós euritos que aqui trago
Diz ele; também temos multibanco

Ouço o bater da terra onde me movo
Cada vez mais longe vai-se afastando
Nada é mais perfeito do que um ovo
E as paredes do meu vão-se estreitando

Condenado

Letra de Carlos de Vasconcelos
Revisão de: José Fernandes Castro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível


Sei que sou um condenado
Pelas leis do coração
Mesmo não sendo culpado
Sinto-me um pobre humilhado
Suportando esta paixão

Movido pela coragem
Embora sem rumo ter
Eu sigo a minha viagem
Para ver a tua imagem
Ou então, p´ra te esquecer

O navio aonde vou
Segue um rumo diferente
E sem ver aonde estou
Sei que a vida colocou
O teu corpo á minha frente

Dar-te amor... foi meu pecado
Pecado que não escolhi
Hoje sou um condenado
Cumprindo as linhas dum fado
Que me faz cantar por ti

Numa antiga madrugada

D.R / Francisco José Marques *fado zé negro*
Repertório de Eliana Castro


Numa antiga madrugada
Sonhou a praia ser fada
Com dedos de rendilheira
Depois a praia acordou
E quis, conforme sonhou
Tecer renda a vida inteira

Almofada, areia fina
Bilros de água cristalina
Renda feita espuma branca
E a canção da rendilheira
É a canção marinheira
Que há mil anos o mar canta

A rendilheira mais linda
Como outrora e hoje ainda
Sobre fronhas de cambraia
Noiva encantada perdida
Fada de renda vestida
E a alma da nossa praia

Big Brother

Letra e música de Jonas
Repertório do autor


Cai a noite na cidade
Com ressaca arrastada e madura
Acorda o bêbado manhoso
Que pede um shot de aguardente quente e pura

Bota acima e bota abaixo
Dormência prá cabeça e pró peito
A abarrotar de tanta vida
De mau olhado de azar de amor desfeito

Ali pertinho a puta velha
Com gloss rasca comprada no Chinês
Tenta engatá-lo à descarada
E ele mais uma aguardente, já vão três
Os dois pombinhos mancos e sujos
Trocam olhares por entre a gente que ali está
Por cima escrito na ardósia
Iscas para hoje já não há

No Chiado a preta louca
Mamas fartas repousadas nos joelhos
Com voz baixinha e nervosa
Pede um cigarro a um casal de velhos

Por baixo no metro já stressado
O cego faz ritmo a pedir esmola
Manda vir com toda a gente
E pisa o calo da senhora que é espanhola

Entra o Romeno de cão ao ombro
Olhar quebrado vai tocando acordeão
Uma criança fica a pensar
Será mais triste o dono ou o cão

E no Saldanha fica a lembrança
Do fulano que acena a quem lá passa
Iluminado pelos faróis
Ali de pé a dar mais graça àquela praça

São personagens de um show real
De um Big Brother sem vencidos nem heróis
Cada um de nós no seu papel
Da manhã fresca até à hora dos lençóis

Todos num conto que não tem fadas
Que tem crianças gatos, pombos e pardais
No eterno enredo puro e simples
Com a certeza de que amanhã há mais

Noite sombria

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

Afirmam que há sol a rodos
Duvido que seja assim
Dizem que brilha p’ra todos
Mas pelos vistos, p’los modos
Para todos, não p’ra mim

Na hora em que me deixaste
Escureceu o meu dia
Pois desde então transformaste
Minh’alma que em luz achaste
Numa noite tão sombria

Como queres que eu veja luz
Se me rodeiam as trevas
Se não sei onde conduz
Toda a esperança que em ti pus
Se não sei onde me levas

Brilhante dança

Letra e música de Mafalda Arnauth
Repertório de Mafalda Arnauth

O dia vai, o dia vem
E a soma em vão dos dias, também
Foge p’los dedos a conta certa
Dos dias em que o não te liberta

Sopra sem ar essa tormenta
Do falso enredo que te alimenta
Quem não se dá ao frio da chuva
Não sabe o gelo que há no chorar

Quem não se quebra por um instante
Não sabe o mundo que mora
P’ra lá da solidão

O sonho veio, logo se foi
Que antes não querer do que perder
Fecha-se a porta, tranca-se a alma
Fica de fora a audácia de ser

Risco de amar? Outro que o corra
Risco de dar? Alguém me socorra
Risco de ver mais que o umbigo
E ficar cego só pelo perigo

Risco de erguer um copo à vida
Onde se quebre em pedaços
O vidro que nos separa

Em tom de medo, quase em segredo
Espreita-se a vida por trás do pano
Brilhante dança que nos convida
A encontrar passo à nossa medida

Vê-nos chegar de pé atrás
Pouco lhe importa o que o medo nos faz
Sem mais demora, dadas as dicas
Diz-nos que é hora de olhar adiante

E num abraço que não tem fim
A vida chega entrando a dançar
E a dizer que sim

Um fado repetido

Jerónimo Bragança (?) / Acácio Rocha
Repertório de Fernanda Maria


Solidão, solidão, eis o que foi
Viver de ti, por ti
Recordar, recordar para esquecer
Restou que só eu só
Fiquei aqui perdida na vida

Dos teus dias de promessas
Dos teus dias de mentiras
Eu sou as horas perdidas
E o resto não é mais
Que situações iguais;
Doutros dias de promessas
Doutros dias de mentiras

Quem canta o Porto

Letra e música de Pedro Fernandes Martins
Repertório de Mariana Correia


Mais um dia que começa
E uma noite a terminar
Mas que tem como promessa
Voltar quando o sol deixar

As janelas vão-se abrindo
Devagar ao novo dia
E o povo vai-se ouvindo
A cantar com alegria

Quem canta o Porto... 
Acrescenta mais um ponto
A um belo e longo conto
Que em granito é gravado
Quem canta o Porto...
Nunca cantará a sós
E terá na sua voz
A lonjura do passado
Quem canta o Porto...
Sabe de cor a saudade
A bonança e a tempestade
Esperança e fé que não perdeu
Quem canta o Porto...
Faz da vida uma canção
E das tripas coração
Que D. Pedro lhe ofereceu

Diz a gente que quem canta
Espanta os males que tiver
Mas não há quem nos garanta
Se assim é mesmo a valer

Na verdade, e afinal
Diz-nos o povo também
Que mais vale cantar mal
Do que, enfim, chorarmos bem

Vertente

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Na vertente inclinada
Que subo por lei da vida
É tão longa a caminhada
Tem tantas curvas a estrada
É tão penosa a subida

A ladear os caminhos
Não há rosas nem verdura
Há troncos secos, velhinhos
Cobertos d’agudos espinhos
Dando sombras de amargura

Aves negras, agoirentas
De longe, seguem meus passos
Há prenúncios de tormentas
Entre as nuvens pardacentas
Que enegrecem os espaços

A fé roubou-me o temor
Nada há que me detenha
E seja lá como for
Hei-de com ela transpor
Esta maldita montanha

Um choro à beira-mar

Mário Rainho / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Mariana Correia


P’ra quê chorar sobre o mar
Se o mar já tem tanta água
Depois da maré vazar
Talvez chore a minha mágoa

Mas o choro enruga o rosto
Queimam lágrimas de sal
Como sol no mês de agosto
Que de tanto nos faz mal

Assim resta-me sorrir
E gargalhar à vontade
Mas quem é que pode rir
Estando a morrer de saudade

E as lágrimas uma a uma
Não adiantam de nada
Nunca saudade nenhuma
Morreu em pranto afogada

Para quê chorar sobre o mar
Se o mar já tem tanta água
Depois da maré vazar
Talvez, chore a minha mágoa

Insegurança social

Letra e música de Jonas
Repertório do autor


Sinto a pedra no sapato
Dor aguda a atormentar-me o mindinho
Vou a pisar ovos devagar
Devagar, devagarinho

Tento usar do otimismo
Como bengala que me ajuda a caminhar
Sou geração rasca
Sem mesada sempre à rasca
Verdes anos a amarelar

Burocracia, azia, desanima, espia
De olho gordo felina a caçar
É caça ao velho e à classe jovem dos quarenta
A malta toda a asfixiar


E eu na fila de hospital tão pouco hospitaleiro
A morrer de tédio e falta de ar
O que me salva é que na TV
Passa o preço incerto que eu tento adivinhar

Insegurança social
Ladra a fingir-se Madre Teresa
Diz que dá não dá, que vai não vai
Rata por baixo da mesa

Cá vou indo de mãos nos bolsos
É que hoje em dia os carteiristas são legais
Digo obrigado, volte sempre fique atento
Mão aberta p’ró mês que vem há mais

Tragam-me a bomba de asma
Estou de trombas
Saca aí do mapa vamo-nos pirar
Tenho articulações duras e perras
Já me dói o rabo estou farto de apanhar

Tragam-me o livro de reclamações
Que ando já sem voz de andar-me a lamentar
Tragam-me um saco de água quente 
Para pôr na mona
Tenho a cabeça a estoirar

Minha guitarra louca

Letra de Artur Ribeiro
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Guitarra vais deixar de ser vaidosa
E de chamar assim as atenções
Guitarra vais deixar de ser teimosa
E de tentar impor tuas razões

Não toques mais sem mim guitarra louca
Ou deixo de contar-te meus segredos
Por mais coisas que faças tu és oca
Só tens alma debaixo dos meus dedos

Não saias mais do tom da minha voz
Ou não te deixo andar mais a meu lado
Ao menos quando não estamos sós
Não fujas ao compasso do meu fado

Bailados na voz

José Fernandes Castro / Martinho d’Assunção *alexandrino*
Repertório de Mariana Correia


Baila na minha voz o nome da cidade
Que vestiu de beleza as rimas do meu fado
Baila na minha voz a naturalidade
Duma casta princesa e dum rei encantado

Baila na minha voz a magia dum rio
Que tem as ninfas todas duma lenda bairrista
Baila na minha voz o som do casario
A alma dos poetas e a musa mais fadista

Baila na minha voz o nome que te dei
Que sendo o que mais gosto, é sempre o mais bonito
Baila na minha voz um fado que gerei
Para te pôr no rosto um sol quase infinito

Poema de maio

José Fernandes castro / André Teixeira
Repertório de Mariana Correia


Meu tempo de viver sempre amarrado
Ao som do som que tem a voz maior
Irrompe na minh’alma quando o fado
Ocupa o espaço certo do amor

Meu tempo de viver alegremente
Avança qualquer fogo, qualquer mar
Intenso… sem querer ser imponente
Ousado… mesmo sem querer ousar

Metida nesta pele a que pertenço
Apenas tenho em mim, para viver
Invernos onde o céu parece imenso
Outonos onde a lua é mais mulher

Nova vénus

Júlio Dinis / Carminho
Repertório de Camané


Solta aos ventos as tranças douradas
Meiga filha das bordas do mar
E no meio das vagas iradas
Solta aos ventos o alegre cantar

Não, não temas as nuvens sombrias
Que uma a uma se elevam d’além
Que rodeado de amor e alegrias
O teu céu dessas nuvens não tem

Canta sempre de noite as estrelas
De manhã ao luzir do arrebol
Ao passarem no mar, as procelas
Ao sorrimos, outeiros o sol

Canta sempre, ó alcíone destas vagas
Nova filha da espuma do mar
Canta sempre e eu sentado nas fragas
Voltarei para ouvir-te cantar

Quero sempre mais um fado

José Fernandes Castro / José Marques *fado triplicado
Repertório de Mariana Correia


Com a alma enfeitiçada
Saciada / e aconchegada
Por versos do meu agrado
Quase nunca me contento
E alimento / o sentimento
Com versos de mais um fado

Posso sentir que o cansaço
É espaço / onde refaço
O corpo já fatigado
A alma da própria vida
Desiludida / e perdida
É sempre a alma do fado

Na hora da solidão
A razão / do coração
É um sopro musicado
Sopro que vem quando quer
Ter o prazer / de beber
Essências do próprio fado

P’ra maior contentamento
Eu invento / o tal momento
Pela voz abençoado
Para matar a saudade
Que m'invade / na verdade
Quero sempre mais um fado

Tributo a Maurício


O meu fado

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Deixo nos versos do fado
Cada passo meu, gravado
Com ternura e poesia
São desabafos, lembranças
São sonhos, restos de esperanças
Do correr de cada dia

Quando eu morrer, o meu fado
Será sentido e lembrado
P’lo mundo de boca em boca
Ficará como padrão
Marcando a recordação
Da minha existência louca

Sempre que o ouvir cantar
Hei-de sentir ressoar
Pedaços do meu passado
Pedaços de mim voando
Dos versos que vou espalhando
Pelas letras do meu fado


O meu fado
Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado

O meu fado é brisa amena
Confissão branda e serena
Dor que me corre na alma
É o resto que ficou
Duma tarde que passou
De paz, de silêncio e calma

É uma prece fremente
Talvez um chorar diferente
Daquilo que chora em mim
É o rosto enegrecido
Dalgum sonho adormecido
Na minha noite sem fim

Uma saudade sombria
Confidência negra e fria
Que vem do meu sofrimento
É uma triste canção
Que me canta o coração
Ao espelhar-se num lamento

Tempestade

Carla Tavares / Custódio Castelo
Repertório de Mara Pedro

Tenho a alma a sorrir
Queres que a leve ou vens buscar
Que se chegares terás a rima em sintonia
No agora cheio de certezas
No amanhã que se faz tarde
Que o meu nome, o meu nome é saudade
O meu nome, o meu nome é saudade

Tenho os sonhos a gritar
Queres que os leve ou vens buscar
Se chegares terás o amor nas mãos
E o depois vira canção
O meu nome, o meu nome é imensidão
Que o meu nome, o meu nome é imensidão

Se faltarem palavras
Anestesiamos a vida
E enxaguamos as lágrimas
Anda, vem-me buscar
Num tempo que respira
E coloca tudo no lugar
Que o meu nome, o meu nome é tempestade
O meu nome, o meu nome é tempestade

Se por acaso

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Se alguma vez por acaso
A tua cabeça louca
Se decidir a pensar
Que pense no nosso caso
Esse caso a que tão pouca
Importância tens p’ra dar

O nosso caso que foi
Infelizmente p’ra mim
Muito mais meu do que teu
Uma história que me dói
Sem pretender ser ruim
Mas que escurece o meu céu

É que tu sem dares por isso
Foste a trégua desejada
Nas batalhas do meu querer
Foste a paz do meu juízo
O sol daquela alvorada
Que já tardava a nascer

Repara que estamos sós
E os dois sós, não somos nada
Como os nada, nada são
Pensa em ti, em mim, em nós
E faz desta madrugada
Um dia quente de Verão

Cinco sentidos

Jerónimo Bragança / Alvaro Duarte Simões
Repertório de Fernanda Maria


Cinco sentidos dispersos
Perdidos sem ter sentido
Sou uma estátua sem forma
Estou viva sem ter vivido

Quem me vê não adivinha
A angústia do meu sofrer
Vivo apenas de saudade
De ter amor e não ter

Eu tenho sede d’água
Nem tenho fome de pão
Tenho sede e tenho fome
Dum nadinha de afeição

Nem minha boca dá beijos
Nem sinto o meu coração
Eu sou a sombra perdida
Na rua da solidão

Lei

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Em verdade nem eu sei
Por que corro atrás de ti
Obedeço a uma lei
Que se impôs, quando te vi

Às vezes quase suponho
Que te sigo sem razão
E ao seguir-te, sigo um sonho
E persigo uma ilusão

Outras há, que me convenço
Que não és sonho, és verdade
E na descrença que venço
Rendo-me à tua vontade

É neste crer e descrer
Que atrás de ti me conduz
Que eu te sigo sem saber
Se me dás sombra ou dás luz

Por que corro atrás de ti
Em verdade nem eu sei
Quem sabe se me perdi
Quem sabe se me encontrei

Saudade de si

DR / Miguel Ramos *fado margarida*
Repertório de Fernanda Maria
Publico este tema na esperança de que alguém 
me saiba indicar o autor da letra

É um homem que nunca foi menino
É um barco que nunca teve mar
Um leito que nunca teve amantes
A hora que nunca há-de chegar

É um instante perdido no infinito
O grito que ninguém irá escutar
A dúvida, a ausência, a incerteza
É tudo por nascer ou inventar

É uma seta que nunca teve um alvo
Os braços sem abraços para dar
A boca sem boca para um beijo
O desejo que ninguém quer desejar

É seara que nunca teve trigo
O trigo que jamais há-de ser pão
É a raiva, a angústia, o desespero
A saudade de si próprio, a solidão

Coração louco

Jorge Rosa / Adelindo dos Santos
Repertório de Sofia Saragoça

Tenho um louco coração
Que quase louca me traz
E não consigo ter mão
Nas loucuras qu’ele me faz

Não tem ordem nem sossego
Nem calma, nem fé tão-pouco
Por isso é que às vezes chego
A ter pena desse louco

Coração não tenhas pressa
Que pressa, bem caro sai
Quem corre, às vezes tropeça
Quem tropeça, às vezes cai

Vê lá bem p’ra onde vais
Não me arrastes nalgum perigo
Se corres, tropeças, cais
Se caíres, caio contigo


Se falo não dás ouvido
Se ralho, não ligas meia
Coração toma sentido
Vida assim não remedeia

Não vale a pena correr
Modera o teu caminhar
Pois que sempre ouvi dizer
Vai-se ao longe devagar

Natércia Maria

Tributo de José Fernandes Castro

Nada é como foi antes, para nós
Após a tua chegada à eternidade
Todos os versos a que deste a tua voz
Estão agora calados em saudade;
Recordações que aumentam a tristeza
Cantam-te livremente, enquanto rimos
Intensa em todos nós, tua'voz beleza
Anda a bailar nos fados que sentimos

Não passes com ele à Musgueira

A.Gonçalves / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Artur dos Santos


Ao fim de tantos anos de seres minha
Amaste outra, casaste, foste foleira
Vi-te passar com esse trinca espinhas
Junto à minha barraca na Musgueira

Podia insultar-te quando te vi
Marcar-te esse focinho com uma faca
Mas vinguei-me a emborrar, borrei p’ra ti
Por entre as tábuas toscas da barraca

Casaste, que o diabo te persiga
Não te desejo mal, grande marreca
Que tenhas caspa e sarna na barriga
Que te caia o cabelo, fiques careca

Mas olha minha tosca bagaceira
Antes que fosses dele eu já fui teu
Podes sempre passar lá na Musgueira
Mas nunca tragas esse camafeu

Volto por ti somente

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quando partires voltarei
Aos lugares de antigamente
Voltar é triste, bem sei
Mas volto por ti somente

Derrota enorme é voltar
Como derrota é morrer
Maior derrota é sonhar
P’ra quem não sabe viver

Um sonho me deste um dia
Roubaste-o mal o sonhei
Ficou-me dor, agonia
Quando partires voltarei

Voltarei porque sou louco
E a derrota deprimente
Vai matar-me a pouco e pouco
Mas volto por ti somente

Tema para uma mãe

Letra de Mário Rainho / Música de (?)
Criação de Maria de Fátima

Se esta voz, que em mim desperto
Alcançasse o teu jardim
Fazia do longe perto
Deste poema o meu fim

Se o abraço deste fado
Te enlaçasse, na distância
Eu viajava ao passado
E voltava à minha infância

Ai, se o vento, por favor
Te entregasse um beijo meu
E teus cabelos, sem cor
Afagasse como eu
Eu seria um passarinho
Voaria mais além
Iria fazer meu ninho
Ao teu colo minha mãe

Sei por experiência, muito, muito bem
Que ninguém devia crescer sem mãe

Deu-me hoje p’ra ter saudade

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Deu-me hoje p’ra percorrer
Caminhos por onde andámos
Os lugares onde trocámos
Tantas horas de bem-querer

Andei por todos os lados
Onde ditosos estivemos
P’los sítios onde fizemos
Juramentos já quebrados

P’los locais onde o desejo
Nos tornou loucos amantes
Todos esses lugares d’antes
Percorri num longo beijo

Roteiro de claridade
Que entre nós escureceu
Vê lá tu p’ró que me deu
Deu-me hoje p’ra ter saudade

Sombra

Pedro Homem de Mello / Filipe Pinto *fado meia noite*
Repertório de António Palma

Aquela estrela apagada
Que tantas vezes luziu
Ó meu amor, não foi nada
Foi um de nós que partiu

E aquela flor? Ai da flor!
Quem a pisou? Tu ou eu?
Não foi nada, ó meu amor!
Foi um de nós que morreu

E aquela folha caída
Que logo o vento levou?
Ó meu amor! Foi a vida
Foi um de nós que passou

Fado do Bairro Alto

Avelino de Sousa / Alves Coelho
Cantado por Aldina de Sousa


É o fado nacional
A canção mais portuguesa
Que nos fala ao coração
E que tem em Portugal
A graça, o encanto, a beleza
Da mais sagrada oração

Quando chega a procissão
Dos Passos, no seu andor
Todo o bairro vai então
Confirmar a devoção
Beijar o pé ao Senhor

O Bairro Alto
Vale mais que a Mouraria
Onde a Severa vivia
E só por isso tem fama
O Bairro Alto
Mais fidalgo e mais artista
É mil vezes mais fadista
Até do que a própria Alfama


Do Alto Longo ao Camões
Atravessa-se num salto
Mas tão curtas dimensões
Guardam sempre as tradições
Do meu velho Bairro Alto

Da madrugada ao alvor
Passa a rascoa e o faia
E entre a navalha e o amor
Chora o fado a sua dor
Pela Rua da Atalaia

Toda a gente dos jornais
Poetas e atores lá vão
Ouvir os sons divinais
Dos fadinhos nacionais
À taberna do Tacão

Beatriz da Conceição

Tributo de José Fernandes Castro

Beatriz da Conceição
Mulher, fado, coração
Amor, ternura, pecado
Beatriz, alma constante
Melodia penetrante
Nas harmonias do fado

“ANTES DA PARTIDA”
Minha diva especial 
Musa do fado que adoro
Nesta hora em temporal
Penso em si, e por si choro

Quero que sinta de mim 
O apego dedicado
De quem conheceu no fado 
Esta adoração sem fim

Nesta hora agora triste 
Que vai passar concerteza
Tenha a certeza que existe 
Um coração que a preza

Tudo pergunta por si 
Tudo sente a sua ausência
Até nos meus versos, li 
A voz da sua presença

Sabe que tem, por direito 
Um espaço reservado
Neste meu pequeno peito 
Nesta altura magoado

Reaja naturalmente
A este mau contratempo
E busque no pensamento 
A força que em si se sente

A noite anda mui sombria 
O fado anda mui tristonho
Até mesmo a voz do dia 
Tem um silêncio medonho

Receba um beijinho forte 
E cheio de poesia
Nesta mensagem de sorte 
Querida e amada Bia

"DEPOIS DA PARTIDA"
O fado perguntou, por si, à madrugada
E perguntou também, por si, à poesia
Talvez porque estranhou a sua voz calada
E não ouviu ninguém cantar, como devia

O fado perguntou, p’lo som da sua voz
Aos poetas do amor e aos bairros da cidade
Dizendo que notou tristeza a mais em nós
O fado, em sua dor, amarrou-se à saudade

De todas, a mais fadista... a mais inteira
De todas, a mais de nós... a mais verdade
Mulher do povo e artista... verdadeira
Alma-fado, mulher-voz... fado-saudade

Beatriz da Conceição... fado perfeito
Mulher-fado-coração... dentro do peito
Viverás eternamente... em viva chama
Neste povo que te sente... e que te ama

Muitos passam pelo fado... e partem sós
Tu ficaste toda em fado... toda em nós.

Partindo-se

João Roiz de Castelo Branco / Alain Oulman
Repertório de Amália


Senhora, partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém

Partem tão tristes os tristes
Tão tristes, tão saudosos
Tão saudosos

Tão doentes da partida
Tão cansados, tão chorosos
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida

Partem tão tristes os tristes
Tão fora de esperar bem
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém

Senhora do Almortão

*Senhora da Póvoa*
Popular c/arranjos de Edmundo Bettencourt
Repertório de Edmundo Bettencourt
A 3ª estrofe refere-se ao tema *Senhora da Póvoa* 
que o intérprete usou no arranjo

Senhora do Almortão
Óh minha rosa encarnada
Ao cimo do Alentejo
Chega a vossa nomeada

Senhora do Almortão
Minha tão linda arraina
Vira costas a Castela
Não queiras ser castelhana

Minha Senhora da Póvoa
Minha boquinha de riso
Minha maçã camoesa
Criada no paraíso


Senhora do Almortão
A vossa capela cheira
Cheira a cravos, cheira a rosas
Cheira a flor de laranjeira

Foge

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Cuca Roseta


Foge, deixa-me p’ra trás
Descruza o passo e finge
Que não dás por mim aqui
Foge, olha o que o fugir me faz
Como me atinge
Faz-me andar atrás de ti


Quanto amis difícil fores
Mais se prende de amores
Meu lado feminino
Dá-me luta seres como és
Os que caem aos pés
São fáceis e eu declino

Acentuo a maquilhagem
Visto a personagem
Dos filmes sem cor
No enredo em que a mulher
Que finge que não quer
Está perdida de amor

Só me tenta a tentação
De querer deitar a maão
A quem me quer fugir
O quer ter o que não tenho
Redobra-me o empenho
P’ra ter de o conseguir

Lisboa minha paixão

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Mal me levanto Lisboa
Da tua cama aquecida
E a manhã desabotoa
O seu corpete de vida;
Há um “Bom-dia” que soa
A cantiga apetecida

Quando nas horas de amor
Ternura nos apetece
O sol dá-te mais calor
O céu mais azul parece;
Cada beijo faz-se em flor
E só amor acontece

Quando passeio contigo
Lisboa minha cidade
Há sempre um lugar antigo
Que me sabe a novidade;
O tempo que é teu amigo
Desmente-me a tua idade

Quando contigo me deito
Lisboa minha paixão
Nas colinas do teu peito
Embalo o meu coração;
E canto um fado no jeito
De quem reza uma oração

De mais ninguém

Marisa Monte / Arnaldo Antunes
Repertório de António Vasco Morais


Se ela me deixou
A dor é só minha e de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor

Se ela preferiu ficar sozinha
Ou já tem um outro bem
Se ela me deixou, a dor é minha
A dor é de quem tem

É o meu troféu, é o que restou
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor

A sala, o quarto, a casa está vazia
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha
A dor é minha, a dor

É o meu lençol, é o cobertor
É o que me aquece sem me dar calor
Se eu não tenho o meu amor
Eu tenho a minha dor

A sala, o quarto, a casa está vazia
A cozinha, o corredor
Se nos meus braços ela não se aninha
A dor é minha, a dor

Viver a vida

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Viver a vida é viver
Viver a vida é penar
Viver a vida é sofrer
Viver a vida é amar

Quem tem tudo o que deseja
Vive a vida com prazer
E diz, a quem quer que seja
Viver a vida é viver

Mas o que é pobre e doente
Não pode a vida gozar
Esse diz, constantemente
Viver a vida é penar

Quem tem desgostos de amor
Que jamais pode esquecer
A vida não tem valor
Viver a vida é sofrer

Mas quem vive, dia a dia
Hora a hora, a trabalhar
A vida tem alegria
Viver a vida é amar

Vinha num cavalo branco

Letra de Manuel de Andrade
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Vinha num cavalo branco
Tão branco, que mais parecia
Em fria neve talhado
Vinha num cavalo branco
E toda a gente que o via
Sorrindo, vinha saudá-lo

Nos seus olhos vinham esperanças
Que espalhava de mãos cheias
Sobre o seu manto de arminho
E ao passar pelas aldeias
Vinham correndo as crianças
Pôr-lhe rosas no caminho

Da minha torre

Ary dos Santos / Tiago Machado
Repertório de Liana

Ao sol, ao vento, à música, levanto
Esta voz que não tenho a Deus imponho
A obrigação de me escutar o canto
E entender o que digo e o que sonho

Contra o que sou me guardo e quando oiço
Falar do que pareço, posso então
Encher o peito de tristeza e riso
Pois só eu me conheço e só eu posso
Subir até àquela solidão
Onde me incenso, amo e realizo

A mim me desafio, aos outros ponho
A condição de me odiarem tanto
Que não descubram nunca o que suponho 
O meu secreto e decisivo encanto

Beatriz da Conceição

Tributo do poeta Carlos Escobar

És…

Tu és fado e és mulher
És o trinar da guitarra
És a fúria de viver
És corda que não amarra

És gaivota que não voa
És a força que tu sentes
És pedaço de Lisboa
És o fado a quem não mentes

És o traço que traçaste
És o vento que castiga
És a vida que abraçaste
És amante e és amiga

És esta fterra a sofrer
És revolta que eu não travo
Tu és fado e és mulher
És violeta e és cravo

És o fado quando o cantas
És o fado e o coração
E quando o cantas, encantas
Beatriz da Conceição

Fado dos olhos claros

Edmundo Bettencout / Mário Fonseca
Repertório de Edmundo Bettencout


A luz dos teus olhos claros
É uma estrla a lucilar
Que eu, ora vejo no céu
Ora nas ondas do mar

Óh olhar da claridade
Olhar d luar e água
Sagrado espelho onde vejo
A sombra da minha mágoa

Mouraria em festa

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Hoje o dia é menos triste
Nas ruas da Mouraria
Passeia a Virgem Maria
P’las vielas da Moirama
Vem cá ver s’inda não viste
O que é sonho, amor e fé
Anda cá ver como é
Que o meu bairro sonha e ama

Ai, ai, ai, repicam os sinos, há festa
Da capelinha modesta
À tardinha a Virgem sai
Ai, ai, ai, juncadas de rosmaninho
Estão as pedras do caminho

P’lo caminho onde ela vai
Ai, ai, ai, o andor lá segue em frente
Ajoelha o povo crente
Erguendo as mãos e a voz
Ai, ai, ai, Senhora Santa Maria
Velai pela Mouraria
Rogai por nós

Olha o velho Benformoso
Que parece uma criança
D’alma em festa, não se cansa
De sorrir com devoção
Vê o Capelão saudoso
Que hoje é sombra do que era
Como chora p’la Severa
Como chora de emoção
 

Vestígios

Tiago Torres da Silva / Armando machado *fado maria rita*
Repertório de António Pinto Basto

Por ter medo de te amar
Resolvi não confessar
O meu amor a ninguém
E quando passas, agora
A minha saudade cora
Por sentir medo também

Preciso que a noite caia
P’ra poder descer à praia
Beijar-te os lábios sem cor
Talvez a noite m’esconda
E depois, vem uma onda
E apaga as marcas de amor

Vestígios dos nossos beijos
Das promessas, dos desejos
Cavados à beira mar
Mas depois, a maré cheia
Vem alisar a areia
E não se atreve a falar

Assim, o nosso segredo
Fica guardado entre o medo
E o cheiro a maresia
Meu amor, amo-te tanto
Que roubei à noite o manto
E ela fingiu que não via

Quatro delícias

Letra de Artur Soares Pereira
Desconheço se esta letra foi gravida
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível

Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Quatro sardinhas assadas
Quatro pingas de água-pé
Quatro quadras bem cantadas
Que bom que tudo isto é


Quem vai, p’lo Verão, ao Ginjal
Nas tascas mais afamadas
Tem, por prato principal
Quatro sardinhas assadas

Aquilo até nos dá vida
Dá-nos alma, alento e fé
Cada sardinha comida
Quatro pingas de água-pé

No meio da animação
Surgem logo as desgarradas
P’ra fazer a digestão
Quatro quadras bem cantadas

E no regresso a Lisboa
Vem tudo a trocar o pé
Meu Deus! Que tarde tão boa
Que bom que tudo isto é

Lembras-te da nossa rua?

Letra de António Cálem
Extraída do livro do autor editado pela
Academia da Guitarra Portuguesa e do Fado

Esta letra não foi gravada e veio a dar lugar ao fado da defesa


Lembras-te da nossa rua
Que hoje é minha e já foi tua
Talhada para nós dois?
Foi aberta pela amizade
Construída com saudade
Para o amor morar depois

Mas um dia tu partiste
E um vento frio e triste
Varreu toda a Primavera
Agora veio o Outono
E as folhas ao abandono
Morreram à tua espera

Certas noites o luar
Traça o caminho no mar
Para chegares até mim
Mas é tão longa a viagem
Que só te vejo em miragem
Nas sombras do meu jardim

E é nesta rua deserta
Que minha alma então desperta
Só para ver-te passar
Que importa ser a saudade
Que passeia na verdade
Aos olhos do meu sonhar?


Letra cantada inicialmente na música do Fado José António de Sextilhas 
de (José António Sabrosa) e, mais tarde, na música do Fado da Defesa.
Gravada, respetivamente, em disco com o título Fado do Zé António e no EP
Maria Teresa de Noronha *Avé Maria da Serra* com o título Fado da Defesa
com alteração do sexto verso da terceira estrofe e omissão da quarta estrofe.

Fado do silêncio

Letra de Jorge Rosa
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Silêncio, cala-te vento
Não chores mais p’lo caminho
Consente que este lamento
Feito do meu sofrimento
Chore no mundo sozinho

Silêncio, cala-te mar
P’ra quê bater nesse jeito
Se não chegas a abafar
As penas do meu penar
No marasmo do meu peito

Silêncio, chuva que é tanto
O pranto dos olhos meus
Que até mesmo quando canto
É maior todo o meu pranto
Que todo o pranto dos céus

Silêncio, que a tempestade
Que em meu peito se agitou
Tem mais força mais vontade
Porque é feita da saudade
Que um grande amor me deixou

Farrapo

Carlos Cardoso Luís / João Blak *fado menor do porto*
Repertório de Rolando Silva


Mora num bairro da lata
Barraca quarenta e três
Dizem que tem vida fácil
Esquece a primeira vez

Vivo farrapo de gente
Dentro do carro em Monsanto
Na pensão do Intendente
Na barraca, ou qualquer canto

O jovem, os velhos a esmo
Chulo, rouba-lhe o dinheiro
Sofre todos dias o mesmo
Lá presa no cativeiro

A máquina fica cansada
O fácil é mais que dor
A vida é longa, pesada
Triste vida sem amor

Sem amor parece um trapo
Os dias lá vão passando
Na miséria, um farrapo
Nunca se sabe até quando

Dorme dorme minha alma

Afonso Lopes Vieira/ Frei Hermano da Câmara
Repertório de Leonor Santos
Gravado por Ricardo Ribeiro com o título *Romance*
e com música do intérprete

Por noite velha, truz, truz
Bateram à minha porta
Donde vens, ó minha alma
Venho morta quase morta

Dorme, dorme, ó minha alma
Dorme e para te embalar
A boca me está cantando
Com vontade de chorar


Já eu mal a conhecia
De tão mudada que vinha
Trazia todas quebradas
Duas asas de andorinha

Mandei-lhe fazer a ceia
Do melhor manjar que havia
De onde vens, ó minha amada
Que já mal te conhecia

Mas a minh’alma calada
Olhava e não respondia
E nos seus formosos olhos
Quantas tristezas havia

Mandei-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha
Por cima, damasco roxo
Por baixo, cambraia fina

Adolescência perdida

António Rocha / Raúl Ferrão *fado carriche*
Repertório de António Rocha


Poema da minha vida
Sem velhice nem infância
Adolescência perdida
No mar da minha inconstância

Poema da minha vida
Fogo que perdeu a chama
Caminhada resumida
A sulcos feitos na lama

Sem velhice nem infância
Vão as verdades morrer
No limite da distância
Que há entre mim e o meu ser

Adolescência perdida
Em busca de mundo novo
E da paixão construída
Com gritos vindos do povo

No mar da minha inconstância
Naufraga a causa perdida
A que tu dás importância
Poema da minha vida;
Levas nas mãos amarradas
Vontades amordaçadas