Repertório de António Pinto Basto
Certa manhã no Grandella / Vi a bela caixeirinha
E preso nos olhos dela / Quase esqueci ao que vinha
Pois beleza como aquela / Dava-lhe um ar de raínha
E a simples entretela / Que era coisa pobrezinha
Só por roçar nas mãos dela
Ai, a bela caixeirinha / Que morava na viela
Onde voltava à tardinha / Comigo sempre atrás dela
E na porta da tasquinha / Plantei-me de sentinela
Guardando a rua estreitinha / Que parecia larga e bela
Pois a beleza que tinha
E, sempre olhando p’ra ela / Vi que o seu ar de raínha
Era a imagem mais bela / Da Lisboa ribeirinha
Meus olhos não tirei dela / Jurei que seria minha
Não há poder de um Grandella / Ou duma baixa inteirinha
Que impeça a caixeira bela
Com a paixão alfacinha / Inspirada p’la donzela
Decerto que se adivinha / Que aquela caixeira bela
Que da baixa era raínha / Deixou de ser do Grandella
E que a casa tão velhinha / Que antes era apenas dela
É agora também minha