Repertório de José Gonçalez
Se tu viesses hoje ter comigo
Àquela velha casa de nós dois
Ali onde a varanda era abrigo
Duns olhos pendurados no postigo
A reclamar os sonhos pra depois
Se tu viesses hoje de mansinho
Sem que ninguém te visse regressar
Colhia as Buganvílias do caminho
Deixava no portado um só raminho
Pra te pôr no decote a enfeitar
Se tu viesses hoje meu amor
Se tu viesses hoje ser só minha
Sem raivas, sem amarras, sem pudor
Podes crer, meu amor, também eu vinha
Se tu viesses hoje meu amor
Se tu viesses hoje ser só minha
Exangue a desbravar teu corpo em flor
Podes crer, meu amor, também eu vinha
Se tu viesses hoje ao sol poente
Escondia-me na silva mais agreste
Fazia de uma amora confidente
Roubava aquele beijo mais ardente
Ali mesmo nas abas do cipreste
Se tu viesses hoje ao canteiro
Daquelas Margaridas, sem defeitos
Talvez o teu Cupido mais certeiro
Deixasse em minha casa, esse teu cheiro
E enchesse a cama de Amores-Perfeitos
Se tu viesses hoje com a lua
Que sempre vem beijar aquela Malva
Roubava esse teu seio que s’insinua
Espalhava Rosas brancas pela rua
E dizia a toda a gente que te amava
Se tu viesses hoje ter comigo
Àquela velha casa de nós dois
Ali onde a varanda era abrigo
Duns olhos pendurados no postigo
A reclamar os sonhos pra depois