Repertório de Manuel Cardoso de
Menezes
Sentado com o neto, o velho
arrais
Olhando o cais lembrava com
saudade
A noite em que aportara a esse
cais
Debaixo duma enorme tempestade
P’ra Lisboa a fragata navegava
Já então era extinta a luz do dia
Eis que uma tempestade levantava
Quando voltar p’ra traz já não
podia
Batendo a vela grande parte a
amarra
Que o mastro vai quebrar já se adivinha
Ao timão que lhe resta então se agarra
Pedindo a Deus as forças que não
tinha
Rota era a vela, o mastro já
quebrava
Quando enfim conseguiu entrar no
cais
A fragata com custo navegava
Mas firme no timão vinha o arrais
Eu sei que lidei sempre com a
morte
Disse por fim ao neto, em voz
sentida
Mas se hoje me sentisse novo e
forte
Voltava a viver a mesma vida