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Fado do trigo

Ary dos Santos / Victorino d’Almeida
Repertório de Carlos do Carmo

É da terra sangrenta, terra braço
Terra encharcada em raiva e em suor
Que o homem pouco a pouco
Passo a passo
Tira a matéria viva do amor

Devagar, a seara ondula as ancas
Como fêmea abrasada de desejo
E aberta ao vento e ao sol
Concebe as plantas
Mulher e mãe na fúria dum só beijo

Prendo os meus lábios á sede
Mordido por um fio de água
O Alentejo não cede
Mesmo com olhos de mágoa
Olhos celeiros do trigo
Semente no coração
Meu trigal de pão amigo
Adubado no meu chão;
Além-Tejo, além-coragem
Com as paredes de cal
És a alma da paisagem
Brancura de Portugal

Depois de prenha, a terra fica tão linda
Crescem cabelos loiros como o fogo
Laços vermelhos na planície infinda
Papoilas vivas que se acendem logo

Pois quando a terra, flor de quem lhe quer
Não há mais dor no parto dos trigais
Será terra feliz, terra mulher
Com filhos de quem todos somos pais