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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Cruz de guerra

Armando Neves / Miguel Ramos *versículo*
Repertório de Berta Cardoso 


Quando vieram dizer / à pobre mãe
Que seu filho tinha morrido / lá na guerra
Ela ajoelhou a tremer / sentindo bem
O desgosto mais dorido / que há na terra 


Trouxeram-lhe a cruz de guerra / que seu filho
Como valente soldado / merecera
E sobre ela a mãe poisou / um olhar sem brilho
Recordando o filho amado / que perdera 


A cruz de guerra pegou / como quem sente
Um reconforto divino / que sonhara
Com ternura a colocou / serenamente
No berço em que pequenino / o embalara 


Pobre mãe, santa do céu / em pleno inferno
Pôs-se a embalar o berço / e a dizer
Dorme dorme filho meu / o sono eterno
Como eterna é a mina dor / de te perder 


E a pobre mãe rematou / neste contraste
Dorme dorme o sono eterno / filho meu
Por causa da cruz de guerra / que ganhaste
Quantas mães estão chorando / como eu

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Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Tradicional*


Cruz de Guerra m versículos para sempre celebrizados na voz de Berta Cardoso, tem a curiosidade de fugir, no seu conteúdo, aos fados bélicos onde se enalteciam as qualidades do soldado português na I Guerra Mundial (1914-18). Em vez de se limitar à dor própria, ou de encontrar consolo na heroicidade em aniquilar o inimigo – tantas vezes indagada pela família do caído em combate «se tinha morrido bem», isto é, com valentia –, esta mãe sente-se solidarizada com a dor das mães dos inimigos eventualmente mortos pelo seu próprio filho, condecorado a título póstumo: «Por causa da cruz-de-guerra 
que ganhaste, quantas mães estão chorando como eu?!...»: