Letra e música de Alberto Janes
Repertório de Hermínia Silva
Chico Marujo jurara
Que se ela o deixasse atar a amarra
Uma vez que ele atracasse
Pegaria na guitarra;
E com a banza afinada
Em tons magoados de corda gemida
Andariam embarcados
Nos fados por toda a vida
Promessas destas naquela boca
Faziam-lhe festas e punham-na louca
Favas contadas, o mundo girou
E semanas passadas o Chico atracou
Quem nasceu já marinheiro
Faz parte da espuma das ondas do mar
Que vão a terra uma a uma
P’ra mais depressa voltar;
Prender um marujo à terra
Dizer-lhe que fique e que do mar saia
É pedir a uma onda
Fica aí quieta na praia
E o rapaz até a beijar
Não era capaz d’esquecer o mar
Vê-se que aflito anda o seu olhar
Como um passarito sem poder voar
O Chico jurou, cumpriu
E trocou o mar pelos beijos dela
Mas passa o dia a espreitar
Barcos, da sua janela;
À noite não vê a lua
Nem ouve o suspiro do morrer do dia
Acompanha-a num retiro
De fados, à Mouraria
Até que um dia foge vai-se embora
Deixa a Mouraria e sai barra fora
Vai a cantar, meu amor, se fujo
É porque sem mar ninguém é marujo