-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
<> 7.370 LETRAS <> 3.429.000 VISITAS <> AGOSTO 2024 <>
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

*

O julgamento da Rosa Maria

De Artur Soares Pereira
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado


Juiz:
Vai-se julgar, nesta sala uma grave acusação
Que é contra Rosa Maria da Rua do Capelão;
Tem a palavra o queixoso, senhor Manuel Xavier
Vai dizer por que motivos acusa sua mulher

Queixoso (no Fado Laranjeira)
Senhor Juiz, eu peço p’ra ser divorciado
Dessa mulher que pôs meu coração em brasa
Porque eu, em certo dia, ao voltar já cansado
Vi um vizinho meu sair de minha casa

Perguntei-lhe quem era, ela não quis dizer
Mas eu desconfiei daquele mariola
Por portas e travessas, vim depois a saber
Que, em pequenos, andaram os dois na mesma escola

Advogado de acusação
 (no Fado Laranjeira)
Pode-se a ré levantar e dizer, a meu pedido
O que tem p’ra contestar à queixa do seu marido;
Mas vou-a já prevenir p’ra pensar bem no que diz
Porque não deve mentir perante o Doutor Juiz

Ré (no Fado A Tendinha)
Senhor Juiz, juro que não vou mentir
A verdade vou dizer: ele foi lá, não foi por mal
Chamei-o lá, para ele me acudir
E me espetar uma estaca que caiu, no meu quintal

Advogado de acusação:
Isso não é a razão, por certo não estava em perigo
Não era uma aflição
O ver a estaca no chão até vir o seu marido

Ré:

O Senhor não pense nisso, era preciso muita resignação
Para estar para ali a olhar ‘té o meu marido chegar
E ver a estaca no chão

Advogado de acusação:
Quase, quase que adivinho
Que isso é tudo ladainha
Porque é que, em vez de um vizinho
Não chamou uma vizinha?

Ré:
Oh, isso nem se pergunta, é fácil compreender
Não chamei uma vizinha
Porque uma mulher não tinha jeito prá estaca meter

Então resolvi tomar a atitude que se impunha
Não estou aqui p’ra aldrabar
E, para o poder provar, eu tenho uma testemunha

Juiz (no Fado Triplicado)
Mande a testemunha entrar
P’ra melhor avaliar / Esta questão duvidosa
Por isso, meu caro senhor
Pode depor a favor / Da Senhora Dona Rosa

Testemunha 
(no Fado Triplicado)
A Dona Rosa ao me pôr / Por testemunha, a favor
Deve estar “inquivocada”
Ia a passar no local / Calhei olhar pró quintal
E o que vi foi pouco ou nada

Porém, o pouco que vi
Eu posso dizer aqui / Sem receio de me enganar
Vi-a co’a estaca na mão
Mas, se ela espetou ou não / Isso não posso afirmar

Advogado:
A sua testemunha, Dona Rosa
Acho que em pouco ou nada a ajudou
E a Senhora, se for conscienciosa
Diga se ele espetou ou não espetou

Ré:
Acho a pergunta tão disparatada
Por que o Senhor a faz, isso eu não sei
Ele espetou a estaca, e bem espetada
Porque foi para isso que o chamei

Está-me a fazer isto confusão
Está-me a atarantar tanta demora
E, se é o divórcio a discussão
Eu estou pronta a assinar, a qualquer hora

Juiz:
Não, isto não fica assim
Vou rever, tim por tim-tim
Tudo quanto aqui ouvi
Depois, na vossa presença
Eu é que leio a sentença
Pois sou eu quem manda aqui

A Dona Rosa Maria
Pelo que vejo até queria
Livrar-se de pesadelos
Dou a causa por julgada
E a ré fica condenada
A pagar custas e selos