Repertório de Mariema
Criação de Mariema na revista *Sopa de mel*
Teatro Maria Vitória 1965
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
Passeia p'lo mundo inteiro
Por gostar da vida boa
Mas não mora no estrangeiro
Mas não mora no estrangeiro
O fado mora em Lisboa
Já morou na Mouraria
Já morou na Mouraria
Mas depois, num sobressalto
Traçou da mudança e um dia
Traçou da mudança e um dia
Foi pró Bairro Alto
O fadinho mora sempre por castigo
O fadinho mora sempre por castigo
Num bairro antigo
Num bairro antigo
E a seu lado p'ra falarem à vontade
Num bairro antigo
E a seu lado p'ra falarem à vontade
Mora a saudade
Mora a saudade
Quase em frente numa casa de pobreza
Mora a saudade
Quase em frente numa casa de pobreza
Vive a tristeza
Vive a tristeza
Tem corrido os velhos bairros sempre à toa
Vive a tristeza
Tem corrido os velhos bairros sempre à toa
Mas mora em Lisboa
Mas mora em Lisboa
Quando vai cantar lá fora
Mas mora em Lisboa
Quando vai cantar lá fora
Tem uma ideia bizarra
Leva o estribilho que chora
Leva o estribilho que chora
Na voz triste da guitarra
Canta lá dias a fio
Canta lá dias a fio
Mas depois, numa ansiedade
Volta sempre num navio
Volta sempre num navio
Chamado saudade
Estão aqui concentrados todos os ingredientes com que se fabricam os êxitos
desde a estrutura das voltas em duas quadras com o último verso de métrica
diferente a introduzir alguma surpresa –, às repetições do refrão
sabiamente «orelhudas».
A conclusão algo fraca de que «o fado mora em Lisboa», do remate do refrão
não apaga a força de verdadeiros achados, como o de o fado e a saudade
morarem lado a lado «p’ra falarem à vontade», e terem por vizinha da frente
a tristeza obviamente habitando uma casa pobre.