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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Fado escravo

Tiago Torres da Silva / Olívia Byington
Repertório de Maria João Quadros


É no silêncio da noite 
Quando o murmúrio do mar
Se transforma num açoite 
Que todos querem escutar
Que a mulher convoca o vento 
E semeia a tempestade
Ensinando o seu lamento 
A transformar-se em saudade

Talvez se escutem poemas
No negror do tombadilho;
As mulheres são mães supremas
Num braço, trazem algemas
No outro, levam um filho

Por cada onda há um homem 
Num remar de tanta idade
Não são as dores que o consomem
Só o consome a saudade
Há um chicote a estalar
E há um navio que avança
Ninguém se atreve a chorar
Ninguém se atreve a ter esperança

Talvez se escutem canções
Na negrura do convés
Os homens calam paixões
Esconderam os corações
Por sob a planta dos pés

Quem são estes desgraçados 
Que invocam os mares do sul
E acabam naufragados 
Na sombra do céu azul?
Que mar este que se acalma 
Em corpos que o sol queimou
Indo a estibordo da alma 
Que nenhum Deus lhe doou

Talvez se escute uma prece
E se ergam olhos aos céus
Em cada corpo se esquece
Um Deus que não o conhece
Um Deus que não quer ser Deus