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Fado mulato

Tiago Torres da Silva / Zeca Baleiro
Repertório de Maria João Quadros


Uma jangada perdida 
Chega a um porto qualquer
Vem quebrada, vem sumida 
Traz a fome adormecida
No ventre duma mulher

Ouvem-se ao longe tambores 
Há uma lua que brilha
Bebendo a seiva das flores 
A mulher morre de amores
Pela voz daquela ilha

Fado mulato... 
Fado que ao nascer do dia
Traz o perfume do mato
Agarrado á melodia
Fado que embala
Um sono que sem aviso
Descobre a voz da sanzala
No sonho do seu sorriso

Aquela mulher perdida 
Encontra um homem qualquer
E ao dar-lhe a sua vida 
Ela fica mais perdida
Não lhe dando o que ele quer

Ao longe o vento que passa 
Não sabe dar testemunho
De ver nascer uma raça 
Onde Dezembro se enlaça
Ás tardes calmas de Junho

Mais uma bala perdida 
Trespassa um corpo qualquer
E há uma pátria que vencida 
Tenta estancar a ferida
Com o que a terra lhe der

A terra dá-lhe suspiros 
E a terra dá-lhe canções
Vazam-se as noites com tiros 
Rasgam-se as almas com vírus
Que matam mais que canhões

Uma guitarra perdida 
Dedilha um fado qualquer
Levanta a voz destemida 
E diz que por estar vencida
Não deixou de ser mulher

Se alguém souber, que me explique
Como é que um perfume chora
Mas mesmo que aqui não fique 
Hei-de levar Moçambique
Pela minha vida fora