Ary dos Santos / Miguel Ramos *fado alberto*
Repertório de Zé Manuel Castro
Minha mãe que não tenho, meu lençol
De linho, de carinho, de distância
Água memória viva do retrato
Que ás vezes mata a sede da infância
Ai água que não bebo em vez de fel
Que a pouco e pouco me atormenta a língua
Ai fonte que não oiço, ai mãe, ai mel
Da flor co corpo que me traz á mingua
De que Egipto vieste, de qual Ganges?
De qual pai tão distante me pariste
Minha mãe, minha dívida de sangue
Minha razão de ser violento e triste
Minha mãe que não tenho, minha força
Sumo da fúria que fechei por dentro
Serás Sibila, Virgem, Buda, Corça
Ou apenas um mundo em que não entro
Minha mãe que não tenho, inventa-me primeiro
Constrói a casa, a lenha e o jardim
E deixa que o teu fumo, que o teu cheiro
Te façam conceber dentro de mim