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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os criadores dos temas aqui apresentados.
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Tenho vindo a publicar letras (de autores que já partiram) sem indicação de intérpretes ou compositores na esperança de obter informações detalhadas sobre os temas.
<> 7.685 LETRAS <> 3.755.000 VISITAS <> FEVEREIRO DE 2024 <>
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Fado do estudante

José Galhardo / Raúl Ferrão / Raúl Portela
Versão do repertório de João Braga 
Criação de Vasco Santana no primeiro filme sonoro feito em Portugal, 
A Canção de Lisboa, em 1932 (A Severa, de Leitão de Barros
foi sonorizado em França). 
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*

Que negra sina, ver-me assim 
Que sorte vil, degradante 
Ai que saudade eu sinto em mim
Do meu viver de estudante 

Nesse fugaz tempo de amor 
Que dum rapaz é o melhor 
Era um audaz conquistador das raparigas 
De capa ao ar, cabeça ao léu
Só para amar vivia eu 
Sem me ralar e tudo mais eram cantigas 

Nenhuma delas me prendeu 
Deixá-las eu, era canja 
Até ao dia em que apareceu
Essa traidora da franja 

Sempre a tenir, sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão 
Botas a rir, um bengalão e ar descarado 
A vadiar com outros mais 
Ia dançar prós arraiais 
P'ra namorar, beber, folgar, cantar o fado 

Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia 
Os professores, a faculdade
E a mesa de anatomia 

Invoco em mim 
Recordações que não têm fim 
Dessas lições frente ao jardim 
Do velho campo de Santana 
Aulas que eu dava e se estudasse 
Ainda estava nessa classe 
A que eu faltava sete dias por semana 

O fado é toda a minha fé 
Embala, encanta e inebria 
Pois chega a ser bonito até 
Na rádio ou telefonia 

Quando é tocado com calor
Bem atirado e a rigor 
É belo o fado
Ninguém há quem lhe resista 
É a canção mais popular
Tem emoção faz-nos vibrar 
E eis a razão de eu ser doutor 
E ser fadista

É difícil dizer se foram alguns fados-canção verdadeiramente geniais que ajudaram 
ao enorme êxito dos filmes portugueses desta época, ou se foram estes filmes da 
idade de oiro do cinema português que deram visibilidade, audibilidade e perenidade 
a fados como este.

Certo é que, hoje em dia, já não se estuda Medicina no Campo de Sant’Ana
os estudantes já não andam de capa e batina senão em dias muito especiais
ou quando atuam em tunas já ninguém usa bengalão.
Mas este fado ouve-se com frequência e sempre com agrado.