Versão do repertório de João Braga
Criação de Vasco Santana no primeiro filme sonoro feito em Portugal,
A Canção de Lisboa, em 1932 (A Severa, de Leitão de Barros
foi sonorizado em França).
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
Que negra sina, ver-me assim
Que sorte vil, degradante
Ai que saudade eu sinto em mim
Do meu viver de estudante
Nesse fugaz tempo de amor
Que dum rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador das raparigas
De capa ao ar, cabeça ao léu
Só para amar vivia eu
Sem me ralar e tudo mais eram cantigas
Nenhuma delas me prendeu
Deixá-las eu, era canja
Até ao dia em que apareceu
Essa traidora da franja
Sempre a tenir, sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão
Botas a rir, um bengalão e ar descarado
A vadiar com outros mais
Ia dançar prós arraiais
P'ra namorar, beber, folgar, cantar o fado
Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores, a faculdade
E a mesa de anatomia
Invoco em mim
Recordações que não têm fim
Dessas lições frente ao jardim
Do velho campo de Santana
Aulas que eu dava e se estudasse
Ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana
O fado é toda a minha fé
Embala, encanta e inebria
Pois chega a ser bonito até
Na rádio ou telefonia
Quando é tocado com calor
Bem atirado e a rigor
É belo o fado
Ninguém há quem lhe resista
É a canção mais popular
Tem emoção faz-nos vibrar
E eis a razão de eu ser doutor
E ser fadista
É difícil dizer se foram alguns fados-canção verdadeiramente geniais que ajudaram
ao enorme êxito dos filmes portugueses desta época, ou se foram estes filmes da
idade de oiro do cinema português que deram visibilidade, audibilidade e perenidade
a fados como este.
Certo é que, hoje em dia, já não se estuda Medicina no Campo de Sant’Ana
os estudantes já não andam de capa e batina senão em dias muito especiais
ou quando atuam em tunas já ninguém usa bengalão.
Mas este fado ouve-se com frequência e sempre com agrado.