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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Fado do cívico

Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos / Bernardo Ferreira
Versão do repertório de Gustavo Leal
Criação de Estevão Amarante na revista *Torre de Babel* em 1917
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*


Eu sou polícia, por desgraça
Faço frente à populaça
Que me odeia porque a livro dos ladrões                                   
E se dou caça aos malandrões
Sou apupado, sou corrido, apedrejado
Vou corrido aos encontrões;
E se faço um gesto vago 
P'ra bater nos refilões                    
Eu sou corrido e mal pago  

Hei-de multar, fazer prisões
Hei-de apitar contra os ladrões
E tudo por seis tostões

Quando a república se fez
Comi tanto dessa vez
Fiquei logo com a cabeça partida
Ai veio o 14 de Maio
Ai, pai da vida,  e ferram-me um outro ensaio     
Que a coisa esteve gaudida
E tanto tenho levado que já estou acostumado
Que não quero outra comida   
                      
São traulitadas, cachações
São ??? de pinhões
E tudo por seis tostões
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Versão Original

Criação de Estevão Amarante na revista *Torre de Babel* em 1917
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia no livro
Poetas Populares do Fado-Canção

Eu sou polícia, por desgraça
Faço frente à populaça
Que me odeia porque a livro dos ladrões
E se dou caça aos malandrões
Sou apupado, sou corrido, apedrejado
Vou corrido aos encontrões
E se faço um gesto vago 
P’ra bater nos refilões
Eu sou corrido e mal pago.

Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões


Quando a República se fez
E eu comi tanto, dessa vez
Fiquei logo com a cabeça partida.
Mas veio o 14 de Maio, ai Pai da Vida
Ferraram-me um outro ensaio 
Que a coisa esteve gualdida
E tanto tenho levado
Que já estou habituado
E não quero outra comida

Hei-de apitar contra os ladrões
Hei-de prender os malandrões
E tudo por seis tostões


Eu uma vez caí na asneira 
De atirar-me a uma sopeira
Que me dava boas pernas de galinha
E vai daí, de manhãzinha
Ardendo em brasa, subo a escada
Entro em casa, vou direito à cozinha
Apalpei uma pessoa
Vai-se a ver, era a patroa
Que me fechou logo na cozinha

Veio o marido aos encontrões
Lá fui corrido aos cachações.
E tudo por seis tostões

Passamos para o âmbito mais doméstico do Ministério do Interior, neste fado
que descreve as atribulações de um «cívico», isto é, um polícia de giro. 

Incompreendido (vá-se lá saber porquê), a população não lhe fica reconhecida por
livrá-la dos ladrões, malandrões e refilões, com explícitas queixas pelo baixo salário: 
seis tostões. 

Mais uma vez a política, com referência à «traulitada» por ocasião da implantação da
república e da posterior revolta de 14 de Maio de 1915, que derrubou o governo de
Pimenta de Castro (mais uma das que ocorreram entre 7 parlamentos, 8 presidentes 
da república e 39 governos de 1910 a 1926, ano em que foram repostos a estabilidade 
e o equilíbrio das finanças públicas, até 1974).

Em 1970, Vicente da Câmara, que em criança ouvia este fado numa grafonola de 
manivela, cantado pelo próprio Estêvão Amarante, aproveitou a música para uma 
letra de Francisco Branco Rodrigues, gravando assim o seu êxito 
*O Fado Antigo é Meu Amigo* reeditado em 2004 num CD biográfico 
deste grande fadista.