Carlos Baleia / Arménio de Melo
Repertório de Jorge Batista da Silva
Não sei se era jazz ou fado o que se ouvia
Nos sons que chegavam das noites friorentas
E se viriam da Bronx, Queens ou Mouraria
Em desassossegos de alma, tão pungentes
Não vi em redor latões com fogo ardendo
Consolando na noite a gente enregelada
Nem sombras que se fossem escondendo
Tão só vozes de fado ou jazz, a vir do nada
Porque cantam de tristeza os infelizes
Transformando fealdade em coisa linda
Pondo na sua dor doces matizes
E dando à alma uma ternura infinda?
Um som de jazz, em revolta, sufocado
Com notas de sofrimento ou ilusão
Vem irmanar-se a um estilar de fado
Em ladainhas da sua condição
Nítido, chega o fado/jazz de algodão
Do escravo, marinheiro, carregador
Cujas vozes de perto conhecem a paixão
E nela cantam seus segredos de amor
Mistérios musicais na noite desvendados
Solitárias dores de uma humanidade
Em nostálgicas notas, acordes magoados
Assim servidos numa taça de saudade