Repertório de Neca Rafael
Minha sogra, um camafeu
Veja bem p'ro que lhe deu
P'ra se espolinhar no chão
E começar a dizer:
Ai Jesus que eu vou morrer
Sabe-me a boca a sabão
A filha agarrada a ela / A tremer, muito amarela
E a gritar como louca
Dizia assim: diga mãe / O que é que você tem
Que tanto espuma p'la boca?
A mãe não liga nenhuma
E sempre a deitar espuma / Mas diz, às duas por três
Ai que eu estou envenenada
Porque andava apaixonada / Por um limpa-chaminés
Ai que aflita que eu estou
Mas o que é que tomou? / A filha lhe perguntava
Ai eu tomei um veneno
Que 'stá no quarto pequeno / Onde o teu homem se lava
Deixei-a quase a morrer
E vou ao quarto a correr / E vejo que aquela parva
Sem sequer de mim ter dó
Engoliu-me todo o pó / Que era de eu fazer a barba
Então, não liguei nenhuma
Deixei-a deitar espuma / Mas tirei a conclusão
Que uma velha com desonra
P'ra lavar a sua honra / Tinha de engolir sabão