Versão do repertório de Argentina Santos
Criação de Maria Albertina com o título *Fado da rainha*
Teatro Avenida na Revista *Água Vai* em 1937
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia
Livro *Poetas Populares do Fado-Canção*
O Chico da Mouraria
Cantava tão bem o fado
Com tanta sabedoria
Que era o homem mais falado
De quantos homens havia
Uma guitarra de pinho
Com cinco cordas de arame
Tocava-as com tal jeitinho
Que era sempre um enxame
De moças, no seu caminho
Mas certo dia, à tardinha
Um grande de Portugal
Deu-lhe o recado que tinha
Vai ao palácio real
Cantar o fado à rainha
A rainha era novita
Uma princesa estrangeira
Usava laços e fita
Na doirada cabeleira
Que a tornavam tão bonita
Eu não sei aqui contar
O que depois aconteceu
Talvez o conte o luar
O fado logo aprendeu
E anda sempre a cantar
E então, desde esse dia
Desde aquela serenata
Sem saber quem lha daria
Usa guitarra de prata
O Chico da Mouraria
Esta letra aparece muitas vezes atribuída a Américo Marques dos Santos.
Este letrista limitou-se a adaptar a letra original de Tomás Colaço a sextilhas
acrescentando-lhes versos cheios de erros de métrica, num atropelo aos direitos
do autor verdadeiro, pois registou essa péssima adaptação como original seu na SECTP, em 23/10/67, com o título
«A Princesa e o Fado»; e uma segunda vez em 22/9/1976, com o título «O Chico da Mouraria»*
Argentina Santos (CD Argentina Santos, Discossete, Lda., Lisboa, 1995) e Manuel
Cardoso de Meneses (CD O Fado – Manuel Cardoso de Meneses
Hoje, Companhia Nacional da Música, S. A., Lisboa, 2010)
gravaram, em excelentes interpretações as quintilhas originais de Tomás Colaço, na música de Frederico de Freitas
e António Melo mas com o título «O Chico da Mouraria», quando deveria ter sido
o título original *Fado da Rainha*.
Infelizmente também, ambas as editoras atribuíram a letra a Américo dos Santos perpetuando o erro e encaminhando
os direitos de autor para que não deveria recebê-los.
Para se poder comparar com o original, as sextilhas de Marques dos Santos são:
O Chico da Mouraria
Cantava tão bem o fado
Com tanta sabedoria
Que era o fadista mais disputado
P’la nobreza e fidalguia
Que havia naquele reinado
Uma guitarra de pinho
Com cinco cordas de arame
Tocava-as com tal jeitinho
E tal mestria que era um enxame
De moças no seu caminho
Ouvindo o lindo certame
Mas certo dia à tardinha
Um grande de Portugal
Deu-lhe um recado que tinha
Para que fosse ao Paço Real
Cantar o Fado à Rainha
Com sua voz de cristal
A rainha era novita
Uma princesa estrangeira
Usava laços de fita
Que lhe cingiam a cabeleira
Era a c’roa mais bonita
Num rosto de feiticeira
Porém eu não sei contar
O que então aconteceu
Talvez o saiba o luar
Como a rainha logo aprendeu
O lindo fado a cantar
E nunca mais se esqueceu
A partir daquela data
Do Socorro até à Guia
Desde aquela serenata
Quem vê o Chico da Mouraria
Usa guitarra de prata
Sem saber quem lha daria.
(Do jornal A Voz de Portugal, Ano II, n.º 6, de 15 de Maio de 1955.)