Repertório de António Pinto Basto
No beco abandonado sem horas que distinga
Com letra que se vinga do sangue atormentado
Vai inscrevendo o fado na trémula restinga
Do corpo macerado, e a pena é uma seringa
Quase em andrajos, nua, no olhar parado voga
Torpor de asas de droga na palidez da sua
Face, de quem se afoga, chupou-lhe o rosto a lua
Sonâmbula flutua e nada aos deuses roga
Tão longe a juventude em cinzas deslembrada
E tão desfigurada, ajude ou desajude
Já não lhe vale de nada, mesmo que a sombra mude
Na sombra se dedagrada sem que anjo algum a escude
Menina e moça assim em casa de seus pais
Criada entre alecrim e rosas no jardim
Levaram-na os sinais das luzes irreais
Agora é quase o fim, que a vida estava a mais