Versão do repertório de César Morgado
De cada vez que te vejo
Sinto um desejo canalha
Beijar-te e marcar-te o beijo
Co’a ponta duma navalha
Fui libertino, não nego / Que o amor me sorria
Mas vi-te, e desde esse dia / Nunca mais tive sossego
Prendeu-me o teu desapego / Co’as algemas do desejo
Agora, tão louco almejo / Desse teu corpo o segredo
Que sinto nervos e medo
De cada vez que te vejo
Nervos por tanto desdém / Medo por não me conter
E de ter que te vencer / À força, não sendo ao bem
E então, tal febre me vem / P’ra começar a batalha
Um tal delírio à navalha / Meus instintos, que te odeio
Que ao ver-te rir, sem receio
Sinto um desejo canalha
Vivo a dor dos malfadados / Que o destino afoga em lama
Já sinto os olhos em chama / E sinto os lábios gretados
Os instintos, acordados / P’las delícias que antevejo
Só premeditam o ensejo / De possuir-te, apertar-te
Prender e martirizar-te
Beijar-te e marcar-te o beijo
Marcar-to, mas tão somente / Co’a pressão da minha boca
Pois seria coisa pouca / Passava facilmente
Não marcar-te a ferro quente / Que é marca vil e não falha
Ou então, – que Deus me valha / P’la luxúria desmedida
Marcar-to, por toda a vida
Co’a ponta duma navalha