Repertório de Raquel Tavares
Noite...
Fosse eu um brilho teu
Que brilhando brilhasse
P'ra iluminar teu céu
Noite...
Sou só um triste olhar
Que se perde nos olhos
De quem me quer olhar
Leves vultos sorrateiros
Nas esquinas, nos umbrais
Seguem-me uns olhos matreiros
Agudos como punhais
Troco um olhar pesaroso
Cruzado entre os demais
Com olhos presos a um corpo
Que se aquece entre jornais
Na viela ainda ecoa
Um timbre rouco, magoado
Só á noite é que Lisboa
Enrouquece a voz, num fado
Uma porta que se abre
Outra fecha-se num estrondo
Uma ameaça velada
Num olhar frio e medonho
As montras escurecidas
Por trás das grades cerradas
As vidas prendem-se ás vidas
Com grades insuspeitadas
Um pombo levanta e voa
Com meus passos, assustado
Só à noite é que Lisboa
Enrouquece a voz, num fado