Rui Manuel / Arménio de Melo
Repertório de Dionísio de Sousa
Gesto ancorado na palma da mão
Palavra muda que espreita entre os dedos
Reta final do insulto, agressão
Ou da carícia que despe um segredo
És uma nuvem à espera de o ser
Planta que dorme por trás da semente
Água que um copo não pode conter
Rio onde a foz denuncia a nascente
Gestos sem conta de dedos a meio
Num prematuro tributo ao receio
Gotas de chuva que a terra bebeu
Gritos perdidos em quem os perdeu;
Escada que falta, degrau derradeiro
Corpo sem forma, sem rosto nem cheiro
Na frustração de já ser acabado
Quase que antes de ter começado
Gesto ensaiado mil vezes ao espelho
Cópia barata que falta improviso
Tempo d’espera que morre de velho
Pranto embrulhado em papel de sorriso
És o recado que boca não dá
Folha que o vento levanta do chão
Voz que o silêncio não sabe onde está
Gesto ancorado na palma da mão