Repertório de Ana Maurício
Na rua do meu passado
O sol parece cansado
De vir dar descanso á lua
Já não quer sair da cama
E é de sombra e de lama
Que se veste a minha rua
Crianças de mão estendida
Vão matando a fome á vida
Na esmola que a vida tem
Mas talvez, quando adormecem
As suas almas confessem
Mas talvez, quando adormecem
As suas almas confessem
Que têm fome também
Mulheres com olhos baços
Carregam nos finos braços
Mulheres com olhos baços
Carregam nos finos braços
Os tristes filhos do fado
Ás vezes rezam o terço
Como quem embala o berço
Ás vezes rezam o terço
Como quem embala o berço
Onde ninguém está deitado
Homens donos de olhos secos
Vagueiam por entre os becos
Homens donos de olhos secos
Vagueiam por entre os becos
Onde a tristeza desiste
Desiste de ser tristeza
E fica com a certeza
Desiste de ser tristeza
E fica com a certeza
De que Deus também está triste