Mote popular / Glosa de Henrique Rego
Desconheço se esta letra foi gravada
Transcrevo-a na esperança de obter informação credível
Letra transcrita do livro editado pela Academia da Guitarra e do Fado
Que bom é ser pequenino
Ter pai, ter mãe, ter avós
Ter esperança no destino
E ter quem goste de nós
Meu rico tempo de infância
Decorreu, por sorte minha
Como voar d’andorinha
Que se perde na distância;
Foi lindo, teve a fragrância
E o encanto peregrino
Dum arrebol matutino
Prenúncio dum sol risonho;
Para vivermos num sonho
Que bom é ser pequenino
Tempo amorável e doce
Que passei, alegremente
No regaço brando e quente
De quem no ventre me trouxe;
P’la idade…ou p’lo que fosse
Sentia o tempo veloz
Traquinava e via, após
Inocentes diabruras;
Ser a maior das venturas
Ter pai, ter mãe, ter avós
Cresci, e o meu coração
Botão de rosa em frescor
Foi pelas garras do amor
Desfolhada ’inda em botão;
Esfacelada essa ilusão
Arquitectada em menino
Confesso: perdi o tino
Ensandeci, pouco a pouco;
E não pode um triste louco
Ter esp’rança no destino
A Esp’rança!... palavra vã
Que em muita ideia divaga
Foi p’ra mim luz que se apaga
Ao despertar da manhã;
Numa alegria pagã
P’ra alindar a vida atroz
Há quem alevante a voz
P’ra dizer que o maior bem;
É na vida amar alguém
E ter quem goste de nós