Repertório
de Mariana Silva
Contei
que tu aparecesses
E
nas contas que deitei
Contando
que tu viesses
Com
teus cartinhos contei
Contei
as horas daquela / Ãnsia
louca de te ver
E
fui contar prá janela / Contando
ver-te aperecer
Contei
as estrelas do céu / Contei
as pedras da rua
E
mil sombras contei eu / Sem
contar a sombra tua
Contei-as
de ponta a ponta / As
contas do meu colar
E
a contar não dei por conta / De
ver a manhã chegar
Sempre
contei que tu desses / Conta,
da falta que achei
Pois
que tu não apareceses / Confesso
que não contei
Dois mistérios rodeiam esta letra:
Primeiro, o texto acima transcrito é o que consta do registo de obra na Sociedade Portuguesa de Autores.
Porém, Amália Rodrigues e todas as fadistas que interpretam este fado não cantam a primeira estrofe
al como está registada, mas desta forma:
Aprendi a fazer contas / Na escola, de tenra idade.
Foi mais tarde, ainda às tontas, / Que fiz contas com alguém.
Eu e tu, naquela ermida / Somámos felicidade.
Aprendi a fazer contas / Na escola, de tenra idade.
Foi mais tarde, ainda às tontas, / Que fiz contas com alguém.
Eu e tu, naquela ermida / Somámos felicidade.
Mas um dia fui seguida.
Que traições que tem a vida, / Que horas más que a vida tem
Tinha um homem, fui tentada
Somei-lhe outro, conta errada / Fiz a prova, não fiz bem.
O segundo mistério é a declaração de registo conter ainda uma última estrofe à qual, pela estrutura, faltam
Que traições que tem a vida, / Que horas más que a vida tem
Tinha um homem, fui tentada
Somei-lhe outro, conta errada / Fiz a prova, não fiz bem.
O segundo mistério é a declaração de registo conter ainda uma última estrofe à qual, pela estrutura, faltam
os quatro versos iniciais, supondo-se a intenção de serem substituídos por um solo instrumental.
Contudo, os oito versos restantes seguem de muito perto o conteúdo dos últimos oito versos da estrofe
hoje cantada como remate.
Seria uma alternativa para escolha posterior do autor? Ou seria para a intérprete decidir qual a do seu maior agrado?
E quem terá modificado os versos que, hoje em dia, são cantados no início, não constando da declaração de registo de obra?
E quem terá modificado os versos que, hoje em dia, são cantados no início, não constando da declaração de registo de obra?