Autor: Silva Tavares
Do livro Quem Canta / 1923
Versos transcritos do livro editado pela
Academia da Guitarra e do Fado
O nome, a honra e os bens
Tudo te dei, tudo é teu
O próprio amor que me tens
É o que sobra do meu
Foi no dia em que te vi
Que rezei p’la vez primeira
Crer em Deus e crer em ti
É crer da mesma maneira
’Inda hão-de nascer os sábios
Que digam por que razão
Um beijo dado nos lábios
Se sente no coração
Ao que sinto só por ti
Não sei que nome lhe dê
Só sei que nunca senti
Um tão doce não sei quê
Já que todos os meus bens
Se encerram no teu carinho
Por alma de quem lá tens
Não me deixes pobrezinho
Não te quis falar de amor
Por timidez fiquei mudo
Mas não pensei no pior
Os olhos disseram tudo
Quando o ciúme te assalta
Sê calmo: não há nenhuma
Onda do mar, por mais alta
Que não se desfaça em espuma
Já que me chamo Maria
E que um José me seduz
Menino que tenha um dia
Há-de chamar-se Jesus
Traçou Deus a minha sina
Nos teus olhos de cigana
E aquilo que Deus destina
Pode mais que a força humana
Só penso em ver se te vejo
Mas fujo se por ti passo
E faço o que não desejo
E desejo o que não faço
Se tu tens que me deixar
Deus eternize o meu sono
Mas que nem mesmo a sonhar
Eu sinta o teu abandono
O adeus mais a distância
Casaram contra vontade
Mas não foi tanta a inconstância
Que não nascesse a saudade
Não chores se se murmura
Porque sais quando anoitece
O luar é a luz mais pura
E só de noite aparece
Quem quer que sejas não fujas
Da mulher que se perdeu
Na lama das ruas sujas
Brilham os astros do céu
Antes ceguinho ficasse
Naquela maldita hora
Se em vez de ver-te cegasse
Sofria menos agora
Um não, é mais venenoso
Que os venenos mais certeiros
Antes um sim mentiroso
Que trinta nãos verdadeiros
Por alguém que vive longe
Lá nos céus, lá no sem-fim
Meu coração fez-se monge
E reza dentro de mim
Dentre os milhões de Marias
Tu és a dos meus encantos
Todos os dias são dias
Mas há também dias-santos
Quando beijares sê calma
Cada beijo, minha louca
É mais um pedaço d’alma
Que nos foge pela boca
Passo meus dias lembrando
O momento em que te vi
E adormeço em ti pensando
E acordo pensando em ti
A boca dos meus amores
É um canteiro fechado
As palavras são as flores
Desse canteiro encantado
Ninguém ama sem temer
Ninguém teme sem cuidar
Ninguém cuida sem sofrer
Ninguém sofre sem amar
Ecoam tristes e calmas
Arrastadas melodias
Paz nos montes, paz nas almas
Trindades… Avé-Marias
Um bem é breve tontura
Vertigem d’asa que passa
Conforme o tempo que dura
Vem logo o dobro em desgraça
O primeiro amor sentido
Pode ser o derradeiro
Mas o último nascido
É, sem dúvida, o primeiro
Há nomes que na verdade
São erros, crimes até
Eu sei duma Piedade
Que nem sabe o que isso é
Nosso amor, sempre crescente
Teve origem mais modesta
Da pequenina semente
Nasce o roble da floresta
Do povo, todas as trovas
São como os beijos d’amor
Sempre iguais, mas sempre novas
Na ternura e no sabor
Tenho um coração de lama
Que não consigo entender
Só quer a quem me não ama
Só ama a quem me não quer
O ciúme é qual serpente
Faz ninho no coração
E vive dentro da gente
Em constante agitação
Raparigas: dos poetas
Sempre é bom desconfiar
Do rio, as águas quietas
Tornam-se iradas no mar
Ser modesto e fazer bem
Ao pobre mais pobrezinho
Não custa nada a ninguém
E é ser Deus um bocadinho
O meu maior inimigo
Foi o dia em que te vi
Pois não me entendo contigo
Nem posso viver sem ti
Tanto te quero, que creio
Que mais ninguém quer assim
E porque o creio, receio
Que não queiras crer em mim
Tomai tento, ó raparigas
Com cantigas ao luar
Ninguém se fia em cantigas
Que não acabe a chorar
Em frases d’amor ardente
Toda a gente é infeliz
Pois ninguém diz o que sente
Quando mais sente o que diz
Eu olhei e tu olhaste
Sorri, sorriste depois
Eu falei e tu falaste
Casei, casámos os dois
O nome, a honra e os bens
Tudo te dei, tudo é teu
O próprio amor que me tens
É o que sobra do meu
Foi no dia em que te vi
Que rezei p’la vez primeira
Crer em Deus e crer em ti
É crer da mesma maneira
’Inda hão-de nascer os sábios
Que digam por que razão
Um beijo dado nos lábios
Se sente no coração
Ao que sinto só por ti
Não sei que nome lhe dê
Só sei que nunca senti
Um tão doce não sei quê
Já que todos os meus bens
Se encerram no teu carinho
Por alma de quem lá tens
Não me deixes pobrezinho
Não te quis falar de amor
Por timidez fiquei mudo
Mas não pensei no pior
Os olhos disseram tudo
Quando o ciúme te assalta
Sê calmo: não há nenhuma
Onda do mar, por mais alta
Que não se desfaça em espuma
Já que me chamo Maria
E que um José me seduz
Menino que tenha um dia
Há-de chamar-se Jesus
Traçou Deus a minha sina
Nos teus olhos de cigana
E aquilo que Deus destina
Pode mais que a força humana
Só penso em ver se te vejo
Mas fujo se por ti passo
E faço o que não desejo
E desejo o que não faço
Se tu tens que me deixar
Deus eternize o meu sono
Mas que nem mesmo a sonhar
Eu sinta o teu abandono
O adeus mais a distância
Casaram contra vontade
Mas não foi tanta a inconstância
Que não nascesse a saudade
Não chores se se murmura
Porque sais quando anoitece
O luar é a luz mais pura
E só de noite aparece
Quem quer que sejas não fujas
Da mulher que se perdeu
Na lama das ruas sujas
Brilham os astros do céu
Antes ceguinho ficasse
Naquela maldita hora
Se em vez de ver-te cegasse
Sofria menos agora
Um não, é mais venenoso
Que os venenos mais certeiros
Antes um sim mentiroso
Que trinta nãos verdadeiros
Por alguém que vive longe
Lá nos céus, lá no sem-fim
Meu coração fez-se monge
E reza dentro de mim
Dentre os milhões de Marias
Tu és a dos meus encantos
Todos os dias são dias
Mas há também dias-santos
Quando beijares sê calma
Cada beijo, minha louca
É mais um pedaço d’alma
Que nos foge pela boca
Passo meus dias lembrando
O momento em que te vi
E adormeço em ti pensando
E acordo pensando em ti
A boca dos meus amores
É um canteiro fechado
As palavras são as flores
Desse canteiro encantado
Ninguém ama sem temer
Ninguém teme sem cuidar
Ninguém cuida sem sofrer
Ninguém sofre sem amar
Ecoam tristes e calmas
Arrastadas melodias
Paz nos montes, paz nas almas
Trindades… Avé-Marias
Um bem é breve tontura
Vertigem d’asa que passa
Conforme o tempo que dura
Vem logo o dobro em desgraça
O primeiro amor sentido
Pode ser o derradeiro
Mas o último nascido
É, sem dúvida, o primeiro
Há nomes que na verdade
São erros, crimes até
Eu sei duma Piedade
Que nem sabe o que isso é
Nosso amor, sempre crescente
Teve origem mais modesta
Da pequenina semente
Nasce o roble da floresta
Do povo, todas as trovas
São como os beijos d’amor
Sempre iguais, mas sempre novas
Na ternura e no sabor
Tenho um coração de lama
Que não consigo entender
Só quer a quem me não ama
Só ama a quem me não quer
O ciúme é qual serpente
Faz ninho no coração
E vive dentro da gente
Em constante agitação
Raparigas: dos poetas
Sempre é bom desconfiar
Do rio, as águas quietas
Tornam-se iradas no mar
Ser modesto e fazer bem
Ao pobre mais pobrezinho
Não custa nada a ninguém
E é ser Deus um bocadinho
O meu maior inimigo
Foi o dia em que te vi
Pois não me entendo contigo
Nem posso viver sem ti
Tanto te quero, que creio
Que mais ninguém quer assim
E porque o creio, receio
Que não queiras crer em mim
Tomai tento, ó raparigas
Com cantigas ao luar
Ninguém se fia em cantigas
Que não acabe a chorar
Em frases d’amor ardente
Toda a gente é infeliz
Pois ninguém diz o que sente
Quando mais sente o que diz
Eu olhei e tu olhaste
Sorri, sorriste depois
Eu falei e tu falaste
Casei, casámos os dois