Manuela de Freitas / Fernando Alvim
Repertório de Cristina Branco
Ruas desertas, águas paradas
Feridas abertas, portas fechadas
Cidade antiga, minha cidade
Que queres que diga se já é tarde
Neste degredo triste e sombrio
O teu segredo, quem o ouviu
Dizes que é cedo mas tenho medo
E sinto frio
Rua das Trinas, ao longe o rio
Escadas e esquinas, um assobio
Velhas, meninas com tristes sinas
Num bar vazio
Lixo no cais, o casario
Coisas banais, um cão vadio
Desço a calçada, não penso em nada
E sinto frio
Jornais, revistas, truques e manhas
Vagos turistas, chuva e castanhas
Ouve-se um canto triste e cansado
Parece um pranto, dizem que é fado
Rua do Ouro, chego ao Rossio
Não sei se choro, não sei se rio
Subo a avenida, estou tão perdida
Está tanto frio
Cidade antiga, dizes que é cedo
Que queres que diga se não te entendo
Mas vou ouvindo e repetindo
Mesmo não crendo
Até que cedo, minha cidade
Sem frio nem medo, que Deus te guarde
Com teu segredo contigo aprendo
Que nunca é tarde