Capicua / Alberto Janes *vou dar de beber à dor*
Repertório de Gisela João
Foi numa ruela escura que encontrei
A tal casa do fado *A Mariquinhas*
Que de Alfredo Marceneiro
Veio ao nosso cancioneiro
Como sendo uma casa de meninas
E com o tempo passado
Foi na voz da D.Amália
Que a casa foi da desgraça às ginginhas
E que mesmo com o fado renovado
Já não tinha nem sardinhas
Depois veio Hermínia Silva que cantou
O regresso da saudosa Mariquinhas
Mas foi sol de pouca dura
Que mesmo sem ditadura
Hoje em dia até as vacas são lingrinhas
Agora vêm meus olhos
Que nem amor nem penhor
Esta casa está mais velha que as vizinhas
As janelas ‘stão tapadas com tijolos
E as paredes ‘stão sozinhas
Só um gato solitário no telhado
E uma placa que ‘stá cheia de letrinhas
Vende-se, oca, esburacada
Por fora toda riscada
E encostada na fachada, uma menina
Mas esta não canta o fado
Só sabe fumar cigarro
E com o fuma, quando sopra, faz bolinhas
Não sabe quem já morou naquele espaço
Ou quem foi a Mariquinhas
E aqui estou à porta, desgostosa
Venda a casa que ‘stá morta e em ruínas
Por causa destes senhores
Até já nem tem penhores
Porque já ninguém tem ouro nas voltinhas
Mas se eu fechar os olhos
E imaginar as farras
Ainda se ouvem as guitarras e cantigas
Porque a casa é a canção que sei de cor
E vou cantar toda a vida