Letra de Silva Tavares / Versículo de Daniel Gouveia
Alfredo Duarte *fado maria marques*
Repertório de Daniel Gouveia
É
numa rua bizarra / muito estreita
A
casa da Mariquinhas / com floreiras
Tem
na sala uma guitarra / tão bem feita
Janelas
com tabuinhas / às carreiras
Vive
com muitas amigas / dedicadas,
Aquela
de quem vos falo / com prazer
E
não há maior regalo / ou pode haver?
De
vida de raparigas / azougadas;
É
doida pelas cantigas / bem cantadas
Como
no campo a cigarra / satisfeita
Se
canta o fado à guitarra / e se deleita
De
comovida até chora / ternamente;
E
a casa alegre onde mora / tão contente
É
numa rua bizarra / muito estreita
Para
se tornar notada / entre as fadistas
Usa
coisas esquisitas / donairosas
Muitas
rendas, muitas fitas / vaporosas
Lenços
de cor variada / a dar nas vistas;
Pretendida
e desejada / nas conquistas
Altiva
como as rainhas / sobranceiras
Ri
das muitas coitadinhas / linguareiras;
Que
a censuram rudemente / sem razão
Por
verem cheia de gente / e animação
A
casa da Mariquinhas / com floreiras
É
de aparência singela / até modesta
E
muito mal mobilada / o quanto baste
No
fundo não vale nada / por contraste
O
tudo da casa dela / sempre em festa
No
vão de cada janela / junto à fresta;
Sobre
coluna, uma jarra / que ela enfeita
Colcha
de chita com barra / bem direita
Quadros
de gosto magano / afadistado;
E,
em vez de ter um piano / aburguesado
Tem
na sala uma guitarra / tão bem feita
P'ra
guardar o parco espólio / a bom recato
Um
cofre forte comprou / a acautelar
E
como o gás se acabou / por não pagar
Ilumina-se
a petróleo / que é barato;
Limpa
as mobílias com óleo / por bom trato
De
amêndoa doce e, mesquinhas / galhofeiras
Pasmam
de fronte as vizinhas / quadrilheiras
P'ra
ver o que lá se passa / que defeito;
Mas
ela tem, por pirraça / e é bem feito
Janelas com tabuinhas / às carreiras