Letra
e música de Carlos Tê
Repertório
de Ana Moura
O
meu amor foi para o Brasil nesse vapor
Gravou
a fumo o seu adeus no azul do céu
Quando
chegou ao Rio de Janeiro
Nem
uma linha escreveu
Já passou um ano inteiro
Deixou
promessa de carta de chamada
Nesta
barriga deixou uma semente
A
flor nasceu e ficou espigada
Quer
saber do pai ausente
E eu não lhe sei dizer nada
Anda perdido
no meio das caboclas
Mulheres que
não sabem
O que é pecado
Os santos
delas
São mais fortes do que os meus
Que fazem
orelhas moucas
Do peditório dos céus
Já deve estar
por lá amarrado
Num rosário de
búzios
Que o deixou enfeitiçado
O
meu amor foi seringueiro no Pará
Foi
recoveiro nos sertões do Piauí
Foi
funileiro em terras do Maranhão
Alguém
me disse que o viu
Num domingo, a fazer pão
O
meu amor já tem jeitinho brasileiro
Meteu
açúcar com canela nas vogais
Já
dança o forró e arrisca no pandeiro
Quem
sabe um dia vai
Arriscar outros carnavais
Anda perdido
no meio das mulatas
Já deve estar
Noutros braços derretido
Já sei que os
santos delas
São milagreiros
Dançam com
alegria
No batuque dos terreiros
Mas tenho
esperança
Que um dia a saudade bata
E ele volte
Para os meus braços caseiros
Está
em São Paulo
E trabalha em Telecom
Já
deve ter “doutor”
Escrito num cartão
À
noite samba
No “Ó do Porogodó”
Esqueceu
o Solidó,
Já não chora a ouvir fado
Não
sei que diga
Era tão desengonçado
Se o vir já não quero
Deve estar um enjoado