Entre tanto
Manuela de Freitas / Armando Augusto Freire *fado alexandrino antigo*
Repertório de Marco Rodrigues
Entre a rosa desfolhada e o espinho que fere a mão
Entre a poeira da estrada e a escada sem corrimão
Entre a mancha na parede e a falha no vitral
Entre o deserto de sede e a montanha de sal
Entre o estore avariado e o moscardo na vidraça
Entre o cigarro apagado e o veneno na taça
Entre a arma que e apronta e a mão que não se estende
Entre o mal com que se conta e o bem que não se defende
Entre o grito e o segredo, presença tão calculada
Entre a loucura e o medo, ausência tão arriscada
Entre o disco repetido e o silêncio pesado
A mesa de pé partido e o verso de pé quebrado
Entre a margem e o fundo, entre mim e tanta gente
Entre esta casa e o mundo, entre tanto tão diferente
Em constante recomeço passa o tempo, muda o espaço
Entretanto eu entristeço, mas não cedo no espaço
E entre o que não é nada
E tudo aquilo que enfrento
Há uma rima encontrada
Um novo fado que invento