Rogério do Carmo / Jorge Fernando
Repertório de Amália Rodrigues
Fui ao mato buscar lenha
Para atiçar o meu borralho
Ai de quem ri e desdenha
Do resquilho e do cascalho;
Fui ao mato buscar lenha
Para atiçar o meu borralho
Ai o Inverno gelado da vida
Das folhas caídas já mortas
Ninguém que nos dê guarida
Trancadas todas as portas
Ai o Inverno gelado da vida
Das folhas caídas já mortas
Fecho os olhos para não ver
Este Inverno que vai chegando
Como as águas no rio a correr
Como um peixe no mar s’afogando
Fecho os olhos para não ver
Este Inverno que vai chegando
O inverno vai chegando no ar
O inverno já no ar no ar chegou
E o tempo implacavelmente a rodar
Nunca nada me deu nada me deixou
O inverno vai chegando no ar
O inverno já no ar no ar chegou!
Ai Primaveras dos tempos que lá vão
Das loucas fantasias desabridas
Da terra fecunda a germinar o pão
Das searas a ondular já floridas
Ai Primaveras dos tempos que lá vão
Ai loucas fantasias já perdidas
Ai Verões à beira-mar plantados
Dos marujos assobiando ao passar
Ai guitarras e fados bem trinados
Ai beijos d’amor ai noites de luar
Ai Verões à beira-mar plantados
Das varinas gingando a apregoar
Ai tardes de sol e ramboiadas
Ai passeios de Lisboa do Chiado
Ai naus por mim nunca navegadas
Ai Tejo em meus olhos debruçado
Ai tardes de sol e ramboiadas
Ai passeios de Lisboa do Chiado
Adeus Outono d’oiro mal chegado
E nos ventos agrestes repartido
E neste Inverno triste enregelado
Nas cinzas deste fosco entardecer
No sulco profundo arado
No silêncio do cipreste denegrido
Esta minha sede imensa de viver