Alberto Janes
Repertório de Amália
Ao poeta perguntei
Como é que os versos assim aparecem
Disse-me só: eu cá não sei
São coisas que me acontecem;
Sei que nos versos que fiz
Vivem motivos dos mais diversos
Mas também sei que sendo feliz
Não saberia fazer os versos
Ó meu amigo, não penses que a poesia
É só a caligrafia no perfeito alinhamento;
As rimas são asim como um coração
Em que cada pulsação nos recorda sofrimento;
E nos meus versos podem não haver medida
Mas o que há sempre, são coisas da própria vida
Fiz versos como faz dia
A luz do sol sempre ao nascer
Eu fiz os versos, porque os fazia
Sem me lembrar de os fazer;
Como a expressão e o jeito
Que p'ra cantar se vai dando á voz
Todos os versos andam já feitos
De brincadeira, dentro de nós
E assim amigo, já viste que a poesia
Não é só caligrafia... são coisas do sentimento